Texto de Isabela Illana e Mayara Araújo
Publicado em 25 de outubro de 2022
O observaSSA indica hoje “A Mulher Rei”, cuja história inspirou a produção de outro filme famoso “Pantera Negra”. Escrito há seis anos e sem o devido reconhecimento que uma produção com direção – Gina Prince-Bythewood – e roteiro – Maria Bello, Dana Stevens – feitas por mulheres; com elenco majoritaritamente negro incluido as protagonistas – Viola Davis, Thuso Mbedu, Lashana Lynch e Sheila Atim; além do cenário ambientado na África pudesse alcançar sucesso de público e de bilheteria, “A Mulher Rei” vem conquistando não apenas as mulheres, mas também à bilheteria. Pelo menos no Brasil, se mantém desde 22 de setembro – quando de seu lançamento – como um dos mais assistidos e procurados pelo público.
E os motivos que guiam as pessoas que querem vê-lo na tela dos cinemas são os mais diversos, desde sua relação com Pantera Negra, perpassando pela busca de compreensão do papel que uma mulher ao ser rei ocupa – um cargo que carrega não apenas potencial e resistência, mas também os ideias de mulheres questionadoras e revolucionárias – até o entendimento da história do Reino do Daomé, atual Benin, numa conjuntura onde as mulheres são guerreiras não apenas pela luta por sua sobrevivência, mas também e principalmente pela defesa de seu povo.
A ideia da indicação deste filme pelo observaSSA partiu de uma das integrantes da equipe, mulher negra, cuja força e voz feminista de luta e busca por presença, reconhecimento e respeito em nossa sociedade – marcada pelos valores patriarcais, machistas, sexistas, homofóbicos – são urgentes. A voz dela, após ver ao filme, somada a diversas outras motivações pessoais, convidou outras integrantes da equipe igualmente negras a também irem ao cinema e se reconhecerem como parte dessa história de mulheres guerreiras.
É oportuno dizer que a história retratada no filme não se resume às mulheres guerreiras, embora seja esse o protagonismo das agodjies, a história também traduz as batalhas que nossos corpos travam para se fazerem presentes, sem as amarras dos sentimentos de exposição ao cotidiano da cidade; suscetíveis aos assédios, estupros e todas as formas de violência que o corpo feminino enfrenta para sobreviver. Fazendo emergir os pensamentos: Somos todas guerreiras? Senhoras da nossa liberdade? Donas de nós mesmas? Que lutamos para proteger a nós e às nossas irmãs?
Esses pensamentos e/ou questionamentos nos fazem pontuar o quanto o empoderamento das mulheres, sejam elas negras ou não, precisa ser exaltado. Particularmente quanto aos nossos corpos negros, o quanto ainda precisamos dizer que nossas histórias de vida nos tornam fortalezas vivas, cujos sentimentos de fragilidade, carência, dor, tristeza, solidão… são escondidos na vivacidade que nossas peles pretas iluminadas pelo brilho do sol resplandece. E que no filme é acentuado pelos usos dos óleos, as estampas das roupas, os movimentos precisos e confiantes nas danças e lutas até os gritos estrondosos que nos convidam à guerra, batalhas que por vezes nem são nossas, mas que nos transbordam.
O filme traz vida, encanto, nos convida a nos apaixonarmos por nossas raízes ancestrais, cujas histórias desconhecemos, seja por seu apagamento ou por simplesmente não serem contadas. Essa possibilidade que o filme nos traz de nos reconhecermos também como guerreiras só que de batalhas diárias, de reconexão com nosso eu, de encontro com nossa história traz à tona a revolta: porque nos tiraram tanto?
Será que apenas os filmes podem nos mostrar o quanto somos fortes? Ou será que é preciso também textos como esse, que ao mesmo tempo é indicação e espaço de reflexão, com qual o ansiamos motivar a busca pelas nossas histórias. Certamente, como mulheres negras que somos, seguiremos propagando nossas fortalezas, nossa cor preta, nossa melanina, nossa garra, nossa potência, nossa africanidade, nosso aquilombamento e nossa imensurável beleza.
Nossas raízes ancestrais tem cor – são pretas; tem história – somos guerreiras; tem poder – somos “A mulher Rei”, sempre nos lembremos disso.