A Cidade

Salvador, capital baiana, com seus 2.675.656 habitantes¹, firma-se como quinta maior população do Brasil e desponta na escala urbana-metropolitana, concentrando mega-investimentos – privados e públicos – direcionados, sobretudo, ao fomento de uma imagem de cidade para o turismo e para o capital imobiliário. Situar Salvador como metrópole – com seus avanços e contradições –, sem perder de vista as vivências e peculiaridades dos bairros, onde a vida cotidiana da cidade de fato acontece, é a missão do observaSSA nessas linhas.

Vendo Salvador por números, a partir da base de dados do Informs-Conder, temos uma população de maioria autodeclarada parda (51,68%) e preta (27,80%), do sexo feminino (53,32%), e concentrada na faixa etária de 20 a 49 anos (52,06%). No que diz respeito aos responsáveis por domicílios, 4,96% deles não são alfabetizados e apesar de 31,3% declarar rendimento na faixa de 0 a 1 salário mínimo2, a renda média da população da cidade era de R$ 2.054,74. Já com relação a infraestrutura ofertada, 96,64% dos domicílios conta com coleta de lixo, 98,88% com abastecimento de água e 90,79% com esgotamento sanitário.

Entretanto, é nosso dever não só apresentar a cidade de Salvador em dados e infográficos, mas, sobretudo, expor os contextos locais que potencializam e/ou limitam a proposição de um observatório atento às dinâmicas da escala do bairro e da participação, e em que medida contribuem para a experiência do direito à cidade. Perspectiva de participação entendida como meio de diálogo e modo de democratizar a informação.

Em diversos tempos históricos, as lutas coletivas compuseram o desenho da cidade de Salvador. Da Salvador colonial, primeira capital do país, até a Salvador dos nossos dias, muito suor e sangue correu por seu solo. Conhecer essa cidade, significa também reconhecer resistências negras, indígenas, estudantis e populares que constituíram diferentes modos de participação política e democrática pelo direito de vivê-la. Nos versos bem conhecidos, “sou mandinga, balaiada. Sou malê. Sou búzios sou revolta, arerê”, a música Revolta Olodum demarca essa trajetória de lutas, destacada nas experiências da Revolta dos Búzios (1798 - 1799), Dois de Julho (1822 - 1823), Revolta dos Malês (1835), Greves Universitárias na Ditadura Militar (1968),  Revolta do Busão (2012) e tantas outras manifestações políticas dessa terra.

A origem do observaSSA está diretamente ligada às recentes configurações espaciais em disputa na cidade, pois surge no contexto de articulação entre associações, coletivos e movimentos populares e comunidade acadêmica (grupo de pesquisa Lugar Comum, a Bartlett School, de Londres, e a École Polytechnique Fédérale, de Lausanne) para leituras territoriais que consideram bairros ou ocupações como base para pensar ações coletivas. Além de contribuir para elaboração dos Planos de Bairros do 2 de Julho e Saramandaia, instrumentos que serviram/servem de ferramenta para o enfrentamento aos conflitos colocados pela iniciativa privada e poder público – projetos Cluster Santa Tereza, Via Expressa Linha Verde, Linha 2 do Metrô Salvador – que impactavam o bem estar comum nesses bairros.

Essas experiências apontaram para o potencial da organização comunitária firmada nas relações de vizinhança, que, além de consolidar processos de participação popular, também sistematiza e materializa demandas do bairro, sendo possível reivindicar junto à Prefeitura e ao Estado às necessidades e soluções para a produção da vida coletiva. 

Nesse mesmo sentido, o observaSSA passa a direcionar olhares para os demais bairros da cidade, a fim de sistematizar e concentrar, nesta plataforma digital, dados e indicadores que possibilitem a compreensão da cidade como um todo, articulando, sempre que possível, a escala local e a escala urbana-metropolitana. Tarefa que se estende, portanto, por 163 bairros, tendo como base a atual subdivisão territorial de Salvador, aprovada pela Lei Municipal Ordinária nº 9.278, de 20 de setembro de 2017, que teve como principal referência o livro Caminho das Águas3.

Em síntese, o observatório dedica-se à coleta, sistematização e disseminação de informações relativas à escala dos bairros em Salvador. Trabalho que se compromete em mobilizar e influenciar a ação técnica e política de moradores, associações, movimentos e coletivos, ao estabelecer conexões e fomentar condições para o exercício da participação cidadã e política. Desse modo, também convidamos para que todos e todas se sintam parte desta plataforma e que contribuam compartilhando com um pouco do seu olhar sobre o seu bairro e sobre Salvador. 

 
 
 
 

¹ De acordo com o Sistema de Informações Geográficas Urbanas do Estado da Bahia (Informs) produzido pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), que tem como suporte os resultados do Censo Demográfico de 2010, disponível em: <https://www.informs.conder.ba.gov.br/2016/10/24/painel-de-informacoes/>.

² Lembrar que, em 2010, o salário mínimo era de R$ 510,00.

³ SANTOS, E. et al. O Caminho das Águas em Salvador: Bacias Hidrográficas, Bairros e Bacias. Salvador: CIAGS/UFBA/SEMA, 2010