Cabula

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Cabula contava com uma população total de 23.869 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (53,11%) e preta (20,18%), do sexo feminino (53,79%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (56,64%). No que diz respeito aos domicílios, 3,14% dos responsáveis não eram alfabetizados, e apesar de 33,3% estar na faixa de 1 a 3 salários mínimos, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$ 2.772,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 98,13% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,82% com abastecimento de água e 97,32% com esgotamento sanitário.

 

Histórico

Texto de Clara Souza Ferreira Rocha* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 16 de julho de 2020

 

 

Segundo Fernandes (2003), o nome Cabula vem do idioma Bantú1. Há, também, outra versão para a origem do termo, na qual Cabula viria do quicongo2 Kabula, que além de ser verbo, é nome próprio, personativo feminino e também de um ritmo religioso muito tocado, cantado e dançado. Sobre isso, Santos et. al. (2010, p. 210) acrescentam que “daí o bairro tomar o nome do ritmo frequente naquela área, sendo suas matas utilizadas pelos sacerdotes quicongos”. Por conta de sua topografia acidentada e densa Mata Atlântica, a área favorecia a implantação de quilombos. Os mesmos se estabeleciam ali por localizar-se distante da área que hoje chamamos de Centro Histórico, núcleo inicial da cidade e, provavelmente, o nome foi atribuído ao bairro para destacar a existência dos vários quilombos presentes no mesmo (FERNANDES, 2003). 

Segundo Santos et. al. (2010), a região onde está localizado o Cabula era conhecida por ser uma área com fortes características rurais e por suas plantações de laranja. Ainda de acordo com os autores, essas terras foram, por volta do século XVI, doadas a Antônio de Ataíde e posteriormente arrendadas ao senhor Natal Cascão, que construiu a capela de Nossa Senhora do Resgate, atualmente conhecida como Igreja da Assunção. Nascia então um pequeno povoado a partir da ocupação nos arredores dessa igreja.

Na década de 1940 esses laranjais foram sendo destruídos por pragas e as fazendas localizadas na área foram loteadas, vendidas ou mesmo ocupadas espontaneamente. A essa altura, segundo Fernandes (2003), se instalou ali o 19º Batalhão de Caçadores (BC) que elegeu o bairro por necessitar de um espaço amplo e desocupado da cidade para realizar suas atividades de treinamento. Para autora e Pena (2010) este foi o ponto de partida para a expansão urbana em direção a esta área da cidade, pois após o 19º BC outras infraestruturas e serviços foram instalados pelo estado. Em fins dos anos 1960 foi inaugurada Avenida Luiz Viana Filho, conhecida como Avenida Paralela. Entre 1965 e 1966 foi implantada a Rua Silveira Martins, que configura-se como eixo estrutural do bairro, juntamente com à Avenida Edgard Santos (1878).  

A partir dos anos 1970 com a intensa atuação do estado para a construção de conjuntos habitacionais, se deu o momento de maior destaque no processo de ocupação urbana do Cabula. A área notabilizou-se no contexto soteropolitano com a implantação de numerosos conjuntos habitacionais financiados, principalmente, pelo Banco Nacional de Habitação (BNH)3 até sua extinção em 1986 e, posteriormente, pela Caixa Econômica Federal - CEF (FERNANDES, 2003).

Se no início de sua história o Cabula caracterizava-se pelas inúmeras chácaras e terrenos, na década de 1970 passou a ser reconhecido pelos numerosos conjuntos habitacionais da era BNH. Além disso, o Cabula já dispunha de uma variedade de estabelecimentos de comércio e serviços de abrangência municipal e também regional. Além do 19º BC, lá estão localizados, por exemplo, a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), 1953, o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), 1979, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), 1983, as empresas de telefonia Oi4 e Vivo, grandes supermercados, diversas escolas públicas e privadas e tantas outras empresas (PENA, 2010).  Esses empreendimentos localizam-se na Rua Silveira Martins e  na Avenida Edgard Santos e em seus entornos. Décadas depois, em 2001, foi construída a Avenida Luís Eduardo Magalhães e mais recentemente, em 2013, foi implantada a Via Expressa Baía de Todos os Santos, aumentando a conexão entre o Cabula, o Centro e Cidade Baixa de Salvador. 

Já na primeira década do século XXI, seguindo a tendência mundial e soteropolitana do urbanismo corporativo, marcado pelo padrão vertical (condomínios fechados dotados de infraestrutura, serviços e segurança particular, por exemplo), o Cabula começou a modificar sua paisagem, onde antes existiam conjuntos habitacionais de poucos pavimentos - no máximo quatro andares, passou a contar com edifícios mais altos ou torres residenciais. 

O Cabula segue sendo um bairro com muitos serviços, para além dos já citados, conta com alguns shoppings, como o Plaza Shopping Cabula e o Cabula Master Shopping, redes de farmácias, agências bancárias e cursos pré-vestibular. Segundo o link do Encontre à sua Escola, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Salvador e presente neste site, o bairro conta ainda com quatro escolas da rede municipal de ensino: escola Municipal Antônio Euzébio, escola Municipal Cabula I, escola Municipal Governador Roberto Santos e à escola Municipal Profª Anfrisia Santiago e com uma escola do âmbito estadual de ensino, o Colégio Estadual Governador Roberto Santos. 

Apesar de ser um bairro bem servido em serviços, segundo o link do Mapa da Saúde, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Salvador, o bairro não conta com nenhum equipamento municipal de saúde. 

 

 

1 Idioma falado em uma região que se estende entre os atuais países do Congo e Angola. De acordo com Castro (1976 apud FERNANDES, 2003) o termo significa mistério, culto (religioso), secreto, escondido.

2 Grupo de línguas bantas faladas pelas tribos muxicongo, maiombe, cabinda, cacongo ou fiote, mussurongo, muzombo, sosso e mussuco. Indivíduo pertencente aos grupos étnicos que falam quicongo.

3 Para mais detalhes, recomendamos ver, entre outros autores: AZEVEDO, Sergio. Vinte e dois anos de política de habitação popular (1964-86): criação, trajetória e extinção do BNH. Revista de Administração Pública, v. 22, n. 4, 1988. - Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile%20/9391/8458>. Acesso: 12 mai. 2020

4 De acordo com informações disponibilizadas no site da empresa, apesar da origem da Oi estar relacionada com a privatização da Telebrás, em 1998, ela foi oficialmente fundada em 2002. Mais tarde, em 2009, a empresa adquiriu a Brasil Telecom, formando um grande conglomerado da telefonia fixa do país. Em 2010, 22,4% da Oi foi adquirida pela Portugal Telecom e, no mesmo ano, esta foi comprada pela Oi. A fusão de ambas foi formalizada somente no final de 2013. Disponível em: <https://www.oi.com.br/ri/conteudo_pt.asp?idioma=0&tipo=43303&conta=28>. Acesso em: 27 abr. 2020.

 

 

REFERÊNCIAS:

 

COSTA, Ana de Lourdes Ribeiro da. Ekabó! Trabalho escravo, condições de moradia e reordenamento urbano em Salvador no século XIX. 1989. 170f. Dissertação (Mestrado)  - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de Arquitetura - Universidade Federal da Bahia. Salvador, 1989.

FERNANDES, Rosali Braga. Las políticas de la vivienda en la ciudad de Salvador y los Processos de urbanización popular en caso del Cabula. 2003. 566f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, 2003.

LIMA, Jamile de Brito. Os “Cabulas” de Salvador: confrontando as delimitações de 1992 e de 2010. 2010. 71f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia, 2010.

PENA, João Soares. A especulação imobiliária chega à periferia urbana de Salvador: origens e perspectivas do cabula sob a ótica da habitação. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia, 2010.

SALVADOR. Consórcio TTC-Oficina. Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de Salvador (SEMOB). PlanMob Salvador: Salvador, 2017. Relatório Técnico RT06: Diagnóstico da Mobilidade em Salvador. Disponível em: <http://www.planmob.salvador.ba.gov.br/images/consulte/planmob/PlanMob-Salvador-RT6---Diagnstico-da-Mobilidade-em-Salvador---01-70-v2.pdf >. Acesso em: 27 abr. 2020.

SANTOS, Elizabete et al. O Caminho das Águas em Salvador: Bacias Hidrográficas, Bairros e Bacias. Salvador: CIAGS/UFBA/SEMA, 2010.

 

 

SOBRE AS AUTORAS:

*Clara Souza Ferreira Rocha é graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, estagiária do observaSSA com financiamento da Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento - PROPLAN. 

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA. 

População

Domicílios

Áreas Verdes

Associações e Coletivos

Associação de Moradores do Cond Solar das Árvores (Consolar)

Contatos: (71) 3384-5233 | (71) 9.8770-8423

Endereço: Rua Nossa Senhora do Resgate, 554 - Cabula.

 

Associação dos Moradores do Conjunto Habitacional Chácara Cabula

Contato: (71) 3387-0120

Endereço: Rua Silveira Martins, 74 - Cabula.

 

Coletivo Cultarte

Contato: (71) 3117-2405

Endereço: Rua Silveira Martins, 2555, Cabula - Prédio da Pós-Graduação, Sala do Grupo de Pesquisa Sociedade Solidária, Educação, Espaço e Turismo (SSEETU).

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