De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Canabrava contava com uma população total de 13.664 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (51,27%) e preta (30,49%), do sexo feminino (53,5%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (54,41%). No que diz respeito aos domicílios, 7,58% dos responsáveis não eram alfabetizados, e apesar de 33,1% estar na faixa de 1 a 3 salários mínimos, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$ 1.857,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 97,22% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,37% com abastecimento de água e 62,48% com esgotamento sanitário.
Histórico
Texto de Jonas Oliveira Santana* e Mayara Mychella Sena Araújo**
Publicado em 09 de abril de 2020
Canabrava é um dos muitos bairros de Salvador cuja história de surgimento se relaciona com a ocupação espontânea. Conforme, o veículo de informações CanabravaOnline, uma das versões para origem do nome vem da presença de uma espécie de vegetação muito parecida com a cana-de-açúcar, que se chamava "Cana-brava".
De acordo com Santos et. al. (2008), o mesmo teve início na década de 1970, quando o estado da Bahia e a Prefeitura Municipal de Salvador (PMS) instalaram assentamentos populacionais na área. Esses foram destinados tanto às famílias que tinham sido desabrigadas, em virtude das fortes chuvas que atingiram Salvador naquele período, como aquelas que haviam sido desapropriadas de outras áreas da cidade.
Barreto (2018) inclusive adiciona que, no começo, a prefeitura de algum modo tentou organizar esse processo de ocupação do bairro, o dividindo em três, mas Santos et. al. (2008) afirma que esse planejamento inicial não obteve êxito. Afinal, os desajustes e desigualdades sociais verificados no país e na cidade de Salvador, entre as décadas de 1960 e 1970, já ocasionavam um padrão de crescimento desordenado, que de alguma maneira foi acentuado pelo papel desempenhado pela prefeitura.
Nesse sentido, Nascimento (2011) aponta que nesse momento inicial foram ocupadas as áreas dos terrenos localizados no alto das colinas, se estendendo posteriormente e também de forma desordenada para as encostas, com as construções autogeridas e majoritariamente sem acompanhamento técnico, as consideradas autoconstruções1.
Outro vetor de ocupação do bairro, e talvez o principal, foi o “lixão de Canabrava”, o qual segundo a leitura de Braga (2003), havia sido instalado no bairro ainda na década de 1970, com previsão de funcionamento de no máximo nove anos. Entretanto, tanto o lixo doméstico, como o hospitalar e comercial foram depositados neste local por mais de 20 anos, conforme relatórios da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb).
Com a presença do depósito de lixo de Canabrava, de acordo com Santos et. al. (2008), centenas de famílias em condições de vulnerabilidade social foram atraídas para essa área, e desenvolviam atividades de catação e venda de materiais recicláveis, ou seja, tinham o lixão como principal fonte de renda. Assim sendo, Braga (2003) enfatiza que o bairro cresceu nos arredores do “lixão” e esse limitou e fixou suas fronteiras, com as vias de circulação.
Além disso, Barreto (2018) afirma que, em 1985, a história do bairro passou a ter um novo contexto, tendo em vista que, o Esporte Clube Vitória (ECV) recebeu do então prefeito de Salvador, Clériston Andrade, uma área para construção de seu estádio. Com a construção do estádio Manoel Barradas, também conhecido como Barradão, em 1986, Canabrava passou a contar com novas vias de acesso, a exemplo da Via Regional e da Avenida Aliomar Baleeiro, que modificaram a vida dos moradores da comunidade e também possibilitaram o início do processo de expansão e urbanização do bairro (BARRETO, 2018).
Em 2001 foi concluída a construção do Aterro Metropolitano Centro, situado na CIA Aeroporto, o qual passou a receber todos os resíduos sólidos da cidade, restando em Canabrava apenas uma área de aterro controlada, destinada aos resíduos da construção civil e uma vala séptica para os resíduos de serviços de saúde pública.
Como forma de minimizar os efeitos causados pelo antigo “lixão’’, foi criado o Projeto Escola Criança Canabrava e o Parque Socioambiental de Canabrava, que levaram várias obras de urbanização para seus entornos, com a construção de parques, áreas para prática de esportes e outros equipamentos que cobriram as toneladas de lixo acumuladas ao longo de décadas (NASCIMENTO, 2011).
Com a inauguração da Avenida Mário Sérgio, em 2018, o bairro não só ganhou mais uma possibilidade de acesso, como também passou a contar com uma melhor interligação às demais áreas da cidade, haja vista sua ligação com a Avenida Luís Viana Filho, também conhecida como Avenida Paralela.
Atualmente, o bairro Canabrava possui um caráter majoritariamente residencial, onde a maior parte de seus moradores vivem em construções localizadas nas encostas, uma parcela da população ainda continua vivendo em condições de vulnerabilidade, principalmente devido ao alto desemprego e baixa renda dos que habitam o bairro.
Para Braga (2003), e até 2020, apenas quatro escolas oferecem o ensino básico e o bairro não possui nenhuma escola que oferte o primeiro grau completo, obrigando os moradores a acessarem bairros vizinhos para estudar. A mesma autora afirma que boa parte de suas ruas são asfaltadas tendo as principais suficientemente largas para permitir o acesso de automóveis, porém as ruas transversais, por serem estreitas, dificultam a circulação e a implantação da infraestrutura dos serviços urbanos.
De acordo com as informações, do Mapa da Saúde disponível na aba de links deste site, o bairro ainda conta com uma Unidade Básica de Saúde (UBS), situada na Rua Bem-Te-Vi, e com uma Unidade de Saúde da Família (USF), na Rua Artemiro Valente.
1 Segundo Sá (2009), autoconstrução se refere a um processo no qual os próprios habitantes assumem diretamente à gestão da produção ou reforma de suas moradias. Geralmente essas construções ficam localizadas nos assentamentos urbanos populares.
REFERÊNCIAS:
BARRETO, O. Canabrava, uma história que foi foi lixo à dignidade. Jornal Resenha na Rede, Salvador, 29 mar. 2018. Disponívem em: <http://www.resenhanarede.com.br/canabrava-uma-historia-que-foi-do-lixo-dignidade/>. Acesso em: 10 dez. 2019.
BRAGA, H. M. de C. Riscos socioambientais em áreas periféricas: uma análise sobre o bairro de Canabrava. Revista Geoambiente, Salvador, 2003.
NASCIMENTO, M. de F. F. Percepção e educação ambiental na prevenção aos riscos geológicos em encostas: um estudo de caso na comunidade de Padre Hugo, no bairro de Canabrava. 200 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana) - Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2011.
SÁ, W. Autoconstrução na cidade informal: Relações com a Política Habitacional e Formas de Financiamento. 176 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Urbano) - Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 2009.
SANTOS, L; SALES, L; SANTOS, S. Aspectos Socioambientais do Trabalho Cooperativo na Comunidade de Canabrava: Estudo de Caso sobre a Cooperbrava. Revista Virtual Candombá, v. 4, n. 2, Salvador, 2008. Disponível em: <http://revistas.unijorge.edu.br/candomba/2008-v4n2/pdfs/Liliane2008v4n2.pdf>. Acesso em 06 dez. 2019.
SOBRE O AUTOR E A AUTORA:
*Jonas Oliveira Santana é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, bolsista do observaSSA, com financiamento da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas - PROAE.
**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA.