Intervenção no Subúrbio Ferroviário: algumas questões

A área do Subúrbio Ferroviário, que envolve os bairros localizados na porção noroeste de Salvador, conta com a presença de um trem, que realiza cerca de 50 mil viagens semanais, sendo usado pelos(as) moradores(as) para se deslocarem não apenas aos seus trabalhos, mas para estudo e outras atividades. No entanto, o mesmo tem diversas estações que estão sucateadas e passa por diversas paralisações ocasionadas pelo déficit de manutenção - que questionamos se não seriam “propositais”. Dessa forma, uma intervenção/ reforma/ requalificação seria “interessante” para o local? 

Sendo assim, em 2017 foi lançado um edital do Governo do Estado, que previa a construção de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), modal de pouco impacto visual, que funciona a tração elétrica, rápido e de fácil manutenção, que reaproveita os trilhos pré-existentes, circula no nível da rua e funciona como um trilho compartilhado entre um trem de cargas e passageiros.

Todavia, o Governo da Bahia, concedeu a licitação da obra para empreiteiras chinesas, que não tem interesse na construção de um VLT (como previsto no edital) e sim de um Monotrilho, e vem dando continuidade ao projeto, sem que haja um processo mais amplo de discussão entre as diferenças de um VLT e um Monotrilho.

 

Imagem: comparação ilustrativa VLT x Monotrilho

 

Diferentemente do VLT, para funcionar o Monotrilho necessita de uma estrutura pesada de concreto, que é erguida entre três a cinco metros do nível da rua, passando por cima de bairros que já possuem problemas de infraestrutura, saneamento básico e cortando a orla da Baía de Todos os Santos. Além disso, o monotrilho vai acabar passando por cima dos trilhos do atual trem, alterando a paisagem, ocasionando remoção de moradores(as) – inicialmente, cerca de 360 famílias serão desapropriadas, sem que haja nenhum plano de reassentamento, programa social ou de habitação previsto, tendo apenas valores irrisórios de indenização –, trazendo graves impactos ao modo de vida já estabelecido nos bairros.

Ainda tem os custos, enquanto VLT custaria em torno de 627 milhões, o Monotrilho custará cerca de cinco vezes mais (aproximadamente 3 bilhões). Somando-se a isso, ainda há o valor a passagem, que passaria (em valores atuais) de R$ 0,50 para R$ 4,20, impacto significativo aos usuários(as) do trem: os pescadores, as marisqueiras, artesãos e os comerciantes populares, que tem como clientes os próprios passageiros do trem.


 

 

FONTES: 

CARIBÉ, Daniel. Um monotrilho sobre as nossas cabeças. Passa Palavra. Salvador, 05 mar. 2020. Disponível em: <https://passapalavra.info/2020/03/130122/>. Acesso em: 12 nov. 2020. 

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