Texto de Analu Garcia
Publicado em 10 de fevereiro de 2022
A Escola Comunitária Luíza Mahín localiza-se na rua do Uruguay, Praça Santa Luzia, no bairro Uruguai, em Salvador/BA.
Segundo dados organizados pelo observaSSA: “em 2010, o bairro Uruguai contava com uma população total de 30.370 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (58,99%) e preta (27,66%), do sexo feminino (53,67%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (50,99%). No que diz respeito aos domicílios, 6,10% dos responsáveis não eram alfabetizados e apesar de 45% estar na faixa de 0 a 1 salário mínimo, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$1.108,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 99,01% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,78% com abastecimento de água e 95,55% com esgotamento sanitário.”
A escola comunitária surgiu a partir da iniciativa dos moradores, em 1990, e está fortemente atrelada à atuação da Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia (AMCSL), que atua fortemente no bairro em busca de melhorias na qualidade de vida dos moradores. A Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia, que também desenvolve mais quatro projetos, além da Escola: i) Banco Comunitário de Desenvolvimento Santa Luzia; ii) REPROTAI (Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe; iii) Creche Comunitária Ruby; iv) Turismo comunitário.
O protagonismo feminino nessa luta é bastante evidente, especialmente por terem sido as mulheres a se mobilizarem na ocupação do edifício, utilizado inicialmente como base para as obras das unidades habitacionais que o Governo do Estado executou após o projeto de aterramento da área, que se tornou a Sede da AMCSL, com duas salas improvisadas para a “escolinha”, como era conhecida à época. Três figuras femininas merecem destaque nessa história e nessa luta por educação (e também moradia): Lurdinha, Marilene e Sonia Rodrigues, fundadoras da Escola Comunitária Luíza Mahín. A escolha do nome se deu pelo envolvimento dessas moradoras com movimentos negros, entendendo a importância da representação e valorização da memória histórica de Luíza Mahín, símbolo de luta e resistência negra.
O desenvolvimento da escola se deu devido à organização e mobilização da comunidade, desde a adequação e ampliação do edifício ocupado para seu funcionamento, até os projetos e coordenação pedagógica, realizada pelos moradores que, inicialmente, eram educadores sociais, atuando no âmbito da educação não formal e, com o passar do tempo e o convênio com a Secretaria Municipal de Educação, iniciaram suas graduações em pedagogia, além das muitas parceiras e cursos de formação continuada para professores. A separação em “educação formal”, “não formal” e “informal”, nesse caso, não faz muito sentido, pois o que prevalece é o componente político e de laços de identidade embutido na constituição dessa escola comunitária, que busca entrelaçar e integrar as diversas dimensões educacionais. Na concepção de sua coordenadora pedagógica, Sônia Rodrigues, educar é um ato coletivo. Desse modo, o que de fato interessa à escola é quebrar as barreiras físicas e simbólicas de seus “muros”, integrar a comunidade escolar à família e à comunidade, numa construção realmente coletiva e significativa para todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
A escola possui parcerias também com o Espaço Cultural Alagados, Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA), Associação de Doceiras, Cozinheiras e Confeiteiras de Itapagipe (ADOCCI) e a ONG Visão Mundial, além de outras escolas públicas na região e os Voluntários Sociais da Bahia (SANTOS, 2019). O objetivo da Escola é promover uma educação que forme cidadãos com consciência crítica e antirracista, prontos para lutarem por seus direitos e exercerem seus deveres em busca de uma sociedade mais justa e igualitária.
A proposta metodológica e sócio-pedagógica consiste em promover o pertencimento comunitário, as identidades de gênero e raça, o empoderamento e protagonismo infantil. A representação e valorização da cultura afro-brasileira é um pilar importante na Escola, tanto no currículo, o qual cumpre a Lei 10.639/2003, que institui a obrigatoriedade do ensino de História e cultura afro-brasileira e africana, quanto na estética, com salas cujos nomes remetem a heroínas negras e princesas africanas e paredes com nomes de personalidades negras, como Nelson Mandela, o refeitório com o nome do sambista “Riachão” e a Biblioteca comunitária Clementina de Jesus. Além disso, o cotidiano das atividades pedagógicas tem forte inspiração no patrono da educação brasileira, Paulo Freire, e na pedagogia de projetos, buscando conscientizar e relacionar o contexto social e político dos alunos ao processo de ensino-aprendizagem.
Com 32 anos de existência (e resistência) a Escola Comunitária Luíza Mahín possui reconhecimento nacional e internacional pelo trabalho desenvolvido em seu espaço. Em 2002 foi destaque na Revista Nova Escola como uma instituição referência na educação inclusiva, antirracista, que valoriza a cultura afro e a diversidade. Em 2015, os institutos internacionais Alana e Ashoka reconheceram a escola como uma “escola transformadora”, por desenvolver “competências transformadoras” como empatia, trabalho em equipe, criatividade, protagonismo, a qual passou a fazer parte da rede “Escolas Transformadoras do Brasil”.
A escola, apesar de sua relevância socioeducativa e política, encontra-se temporariamente fechada.
REFERÊNCIAS:
Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia. Disponível em: <https://luizamahin.wixsite.com/associacaosantaluzia> Acesso em: 09 fev. 2022.
Escolas Transformadoras. Escola Comunitária Luíza Mahín (BA). Disponível em: <https://escolastransformadoras.com.br/escola/escola-comunitaria-luiza-ma... Acesso em: 9 fev. 2022.
Lunetas. Conheça a Luiza Mahin, escola movida pelo orgulho da africanidade. <https://lunetas.com.br/o-ato-de-educar-e-coletivo-diz-educacora-de-escol... Acesso em: 9 fev. 2022.
SANTOS, I. S. Práticas pedagógicas com crianças da educação infantil na escola comunitária Luiza Mahin: narrativas de docentes, coordenadores pedagógicos e gestores. Monografia (Licenciada no Curso de Pedagogia) - Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, 2019. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/handle/ri/31829> Acesso em: 9 fev. 2022.
Observatório de Bairros de Salvador. Uruguai. Disponível em: <https://observatoriobairrossalvador.ufba.br/bairros/uruguai> Acesso em: 9 fev. 2022.