Saramandaia

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Saramandaia contava com uma população total de 11.272 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (50,77%) e preta (38,79%), do sexo feminino  (52,02%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (50,55%). No que diz respeito aos domicílios, 2,06% dos responsáveis não eram alfabetizados e apesar de 57,2% estar na faixa de 0 a 1 salário mínimo, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$718,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 91,27% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 98,29% com abastecimento de água e 94,55% com esgotamento sanitário. 

 

Histórico

Texto de Jonas Oliveira Santana* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 19 de setembro de 2020

 

Saramandaia é um dos bairros mais recentes da capital baiana, surgiu na década de 1970, impulsionado pela construção do novo Terminal Rodoviário de Salvador1, em 1974, e de acordo com Santos et. al. (2010) recebeu esse nome inspirado na telenovela Saramandaia2 de Dias Gomes, exibida pela Rede Globo entre maio e dezembro de 1976. 

As primeiras ocupações se deram a partir da autoconstrução3 de um acampamento, erguido majoritariamente por trabalhadores da obra do novo Terminal, na área de uma antiga fazenda, conhecida por alguns como Guião e por outros de Fazenda Pompilho (SANTOS et. al. 2010). Esse processo se deu devido ao desejo dos novos moradores em sair do aluguel, além da proximidade com o emprego e das melhores condições de mobilidade urbana oferecidas nessa área, como menciona Carvalho (2016). Isso possibilitaria a economia nos deslocamentos, com a redução dos gastos nas tarifas de ônibus, por exemplo.   

O bairro fica localizado em uma área central e valorizada da cidade de Salvador, sendo vizinho a grandes empreendimentos, como o então Shopping Iguatemi, hoje Shopping da Bahia, ao Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (DETRAN), ao Terminal Rodoviário e a ligação Iguatemi-Paralela (LIP). Constituindo uma área de grande valor para o capital privado e, desse modo, a permanência nesse território desde os anos iniciais, até hoje 2020, vem sendo resultado de intensos processos de lutas e resistência de seus moradores (CARVALHO, 2016). 

Alguns dos primeiros habitantes de Saramandaia relatam que, nos primeiros anos, eram batalhas diárias, já que iam desde à Câmara dos Vereadores e da Assembleia Legislativa da Bahia até o gabinete do então prefeito Mário de Mello Kertész, a fim de buscar melhorias para o bairro, conquistando no final dos anos 1970, a primeira escola municipal de Saramandaia, a Marisa Baqueiro Costa (LINDSAY, 2005).  

Por ser uma área negligenciada pela administração pública, os moradores continuaram a se mobilizar em prol da consolidação do bairro, obtendo, em meados dos anos 1980, através dessas mobilizações, diversas conquistas para os residentes de Saramandaia. Dentre as melhorias podem ser citadas pavimentação, drenagem e saneamento básico em alguns locais do bairro, escadarias e contenções em morros e também a instalação de uma passarela próximo ao DETRAN, uma antiga reivindicação de moradores do bairro, que exigiam mais segurança nos acessos à Saramandaia, haja vista o crescente número de atropelamentos que ocorria nas proximidades do DETRAN  (CARVALHO, 2016). 

A partir da década de 1990, com a consolidação da área conhecida como Iguatemi, em referência ao então Shopping Iguatemi, há também a consolidação territorial do bairro de Saramandaia, que passa a se expandir pelas encostas.  Entretanto, por estar próximo a essa nova centralidade da cidade, sua história continua a ser marcada pela pressão da especulação imobiliária, somada à precariedade de investimentos públicos que dificultavam/dificulta a vida dos moradores do bairro (CARVALHO, 2016).   

No final da primeira década do século XXI, as pressões sobre o bairro se intensificaram, devido a instalação de vários projetos urbanos no seu entorno, a exemplo do empreendimento privado imobiliário Horto Bela Vista, o projeto da linha 02 do Sistema Metroviário de Salvador e da Via Expressa Linha Viva, respectivamente,  projetos da JHSF4, do governo do estado da Bahia e da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS) (SUAREZ; TAHARA; LINS, 2016). A execução de tais projetos não levava em consideração os impactos ambientais e sociais gerados nos bairros próximos, como era o caso de Saramandaia, que teria suas poucas áreas de lazer comprometidas, além da remoção de cerca de 3 mil pessoas para a instalação do projeto da Linha Viva (SANTOS, 2018).

Como meio de enfrentamento a essas pressões, entre os anos de 2012 à 2015, através das articulações entre associações, movimentos sociais e Grupo de pesquisa Lugar Comum5, iniciou-se a construção conjunta do Plano de Bairro de Saramandaia6. Esse trabalho resultou em algumas propostas de melhoria para o bairro, como mobilidade e acessibilidade, saneamento e drenagem, equipamentos públicos, habitação e áreas  de lazer (SANTOS, 2018). 

Além disso, como cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)7 do Ministério Público da Bahia - que visava amenizar os impactos gerados com a implantação do Horto Bela vista, nas proximidades do bairro (SUAREZ; TAHARA; LINS, 2016)  - a JHSF foi obrigada a direcionar recursos que viabilizaram a execução da praça pública de Saramandaia pela PMS, sob supervisão da Faculdade de Arquitetura da UFBA. A praça foi entregue aos moradores de Saramandaia em Fevereiro de 2020 e conta com equipamentos de atividade física e de lazer, parque infantil, quadra poliesportiva, área de quiosque, área de mesa de jogos, pavimentação, acessibilidade, além de uma via construída para dar acesso aos equipamentos (A TARDE, 2020). 

Em 2020, Saramandaia conta com um comércio de bairro intenso com diversos mercadinhos, lanchonetes, armarinhos, boutiques, sorveterias e barbearias, que atendem aos moradores da área. 

Embora o bairro esteja localizado próximo a mais importante centralidade urbana de Salvador (área popularmente conhecida como Iguatemi), sua história ainda é marcada por muita garra, luta e determinação de seus habitantes. Isso porque os moradores ainda não possuem muitos bens comuns do direito à cidade, a permanência neste território ainda se mantém em disputa e os habitantes do bairro precisam se articular e se manifestar para garantir sua permanência e pela oferta de serviços básicos por parte do Estado.

Em termos de saúde, de acordo com as informações disponibilizadas no Mapa da Saúde, presente na aba de links deste site, o bairro conta apenas com uma Unidade de Saúde da Família (USF), a Cristóvão Ferreira, que fica localizada na rua da Horta. E quanto à educação Encontre as Escolas do seu bairro indica que Saramandaia conta com duas escolas municipais, a Marisa Baqueiro Costa, na Rua Régia Barreto e a Risoleta Neves, na Rua da Horta, além de três escolas comunitárias de Educação Infantil, mas, mesmo assim Soares (2019) afirma que a quantidade de vagas é insuficiente para atender a demanda de crianças, adolescentes e adultos que necessitam de educação escolar em Saramandaia. 

 

 

1 O anterior estava localizado na Rua Cônego Pereira, na Sete Portas, onde hoje é a Secretaria de Manuntenção da Cidade (SEMAN).

2 A trama principal da novela tratava do fictício vilarejo chamado Bole Bole e ocorreria um plebiscito para alteração do nome para Saramamdaia. 

3 Segundo Sá (2009), autoconstrução se refere a um processo no qul os próprios habitantes assumem diretamente a gestão da produção ou reforma de suas moradias. Geralmene essas contruções ficam localizdas nos assentamentos urbanos populares.

4 A JHSF é uma empresa de capital aberto, fundada em 1972, que atua no setor imobiliário de alta renda no Brasil. Possuindo expressiva atuação nos mercados de shopping centers, fashion retail, hospitalidade e desenvolvimento imobiliário (JHSF).

5 Ligado ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPG-AU) e sediado na Faculdade de Arquitetura da UFBA.

6 O plano está disponível no site: https://sites.google.com/site/plbsaramandaia/inicio.

7 É por meio deste, que o órgão público legitimado à ação pública, toma do causador do impacto, a interesses difusos, interesses coletivos ou interesses individuais, o compromisso de adequar sua conduta às exigências da lei (Lei Federal n° 7.347/85).

 

 

REFERÊNCIAS:

  

BRASIL.  Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF,  24 jul. 1985. Disponível em: <https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=7347&ano=1985&ato=955oXR65keBpWTffb> Acesso em: 25 ago. 2020. 

CARVALHO, Marcos Oliveira de. A produção audiovisual no planejamento urbano participativo: experiências e o caso do plano de bairro Saramandaia. 286 f. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2016. 

JHSF: A empresa. Disponível em: <https://jhsf.com.br/a-empresa/>. Acesso em: 25 ago. 2020.

LINDSAY, Jorge. Saramandaia derrota à violência. A Tarde, Salvador, 07 de ago. de 2005. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/A%20TARDE%20%2007%2008%202005.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2020.

LIMA, Adriana Nogueira Vieira. Do direito autoconstruído ao direito à cidade: porosidades, conflitos e insurgências em Saramandaia. 329 f. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2016.  

A TARDE. Moradores de Saramandaia passam a contar com nova praça. A Tarde. Notícias Bahia, Salvador: 15 fev. 2020. A redação. Disponível em: <https://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/2119383-moradores-de-saramandaia-passam-a-contar-com-nova-praca>. Acesso em: 25 ago. 2020.

SANTOS, Clara. Muda: creche e pré-escola de Saramandaia. 78 f. Dossiê (Trabalho Final de Graduação). Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2018.

SANTOS, Elisabete et. al. (orgs). O caminho das águas em Salvador: bacias hidrográficas, bairros e fontes. Salvador: CIAGS/UFBA; SEMA, 2010.  

SÁ, Werther. Autoconstrução na cidade informal: Relações com a Política Habitacional e Formas de Financiamento. 176 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Urbano). Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 2009. 

SOARES, Rosângela. Saramandaia e as lutas pelo Direito Humano à Educação. ANF, Salvador, 05 de jun. de 2019. Disponível em: <https://www.anf.org.br/saramandaia-e-as-lutas-pelo-direito-humano-a-educacao/>. Acesso em: 15 ago. 2020.

​SUAREZ, Naia; TAHARA Akemi; LINS, Elaine (coord.). Processo de elaboração participativa de Projeto Executivo de Praça no Bairro de Saramandaia. Salvador. 2016 (in mimeo).

 

 

SOBRE O AUTOR E A AUTORA:

*Jonas Oliveira Santana é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, bolsista do observaSSA, com financiamento da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas - PROAE. 

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA. 

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