Ribeira

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Ribeira contava com uma população total de 19.578 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (58,31%) e preta (23,34%), do sexo feminino (53,99%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (50,53%). No que diz respeito aos domicílios, 2,26% dos responsáveis não eram alfabetizados e apesar de 36,7% estar na faixa de 1 a 3 salários mínimos, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$1.634,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 97,79% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,62% com abastecimento de água e 99,18% com esgotamento sanitário.

 

Histórico

Texto de Jonas Oliveira Santana* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 29 de julho de 2020

 

A Ribeira é um dos bairros mais antigos da capital baiana, localizado na área conhecida como Cidade Baixa, na península de Itapagipe. Segundo Aragão (2012), o bairro teve sua origem no século XVI, e as primeiras ocupações se deram a partir de uma pequena aldeia de pescadores que ali se instalou. Foi nomeado como Ribeira, que significa ancoradouro, em decorrência da atividade naval ter sido um dos principais fatores que impulsionou a formação do bairro (SERPA, 2005).

Os séculos XVIII e XIX, de acordo a leitura de Aragão (2012), é marcado pela construção de importantes igrejas católicas no bairro, sendo a de Nossa Senhora da Penha de França, edificada em 1742, e a de Nossa Senhora do Rosário, em 1802. Nascimento (2004) ainda adiciona que a pesca e a tradição religiosa compuseram a história do bairro durante séculos, existindo até mesmo quem duvidasse que a área pertencesse a cidade de Salvador, devido ao seu caráter pacato. 

Aragão (2012), entretanto, sinaliza que com a chegada das linhas de bonde e das indústrias, no final do século XIX, iniciaram as transformações físicas e sociais no bairro. Serpa (2005) aponta, que o bairro passou a caracterizar-se como industrial, em decorrência das diversas fábricas que se instalaram na área. Como a Companhia Empório Industrial do Norte, em 1890, a Fábrica Boa Viagem, em 1891, e diversas indústrias do ramo de tecelagem (SOUSA, 2010). Após o fechamento dessas, em 1973, intensificaram-se as funções residenciais e comerciais do bairro (SERPA, 2005).

Ainda na segunda metade do século XIX, o bairro da Ribeira, passa a contar com a Avenida Mem de Sá, que possibilitava uma interligação entre o bairro e o então centro de Salvador (CARDOSO, 2004). Montalvão (2010) acrescenta que o bairro então passou a atrair pessoas com maior poder aquisitivo, que gradualmente foi construído suas casas à beira mar, inicialmente destinadas apenas para veraneio, mas, posteriormente tornaram-se residências fixas dessas famílias mais abastadas da época. 

Dentre essas residências, destaca-se o Solar Amado Bahia, casarão em estilo eclético1, construído e inaugurado no início do século XX, de propriedade do comerciante Francisco Amado Bahia, o local serviu como residência dessa família até 1966, quando foi instalado o Centro Educacional Amado Bahia e ocorreu o tombamento do edifício pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 2019, o Solar foi restaurado e reaberto ao público como o Museu do Sorvete (OLIVEIRA, 2019). 

Ainda de acordo com o que Aragão (2012) aponta, em meados do século XX, foi construído na Ribeira, o primeiro Hidroporto2 de Salvador, o dos Tainheiros, o qual tinha instalações luxuosas, com sala de espera, sala de bagagem, espaço para agências e companhias aéreas e um restaurante-bar. A mencionada autora traz também que, após sua desativação, em 1943, o local foi utilizado como sede da Associação dos Radioamadores, funcionou como Clube dos Sargentos da Marinha e como boate. Atualmente, o espaço abriga uma loja náutica, um restaurante e também serve como píer para embarcações.

Além do hidroporto, ainda no século XX, surgiram espaços que retratam o modo de vida dos moradores do bairro naquela época. O Largo da Madragoa, inaugurado em dezembro de 1903, é um desses espaços. O local era um manguezal que foi aterrado para a instalação de um circo e seu nome é inspirado no “madragol”, crustáceo que vivia no ambiente na época. Próximo ao largo, havia o Cinema Itapagipe, que funcionou entre 1920 e 1965, tendo sido substituído por um posto de gasolina após sua desativação (ARAGÃO, 2012).

Neste mesmo período, surge também o principal ponto turístico do bairro, a Sorveteria da Ribeira, inaugurada pelo italiano Mario Tosta, em 1931. Inicialmente era frequentada apenas pelos moradores do bairro da Ribeira, porém, devido a sua fabricação artesanal e pela oferta de sabores exóticos, como por exemplo, jabuticaba, jaca, jamelão, sapoti, cupuaçu, dentre outros a sorveteria ganhou fama e se tornou um dos pontos turísticos da cidade (ARAGÃO, 2012). 

De acordo com a leitura de Calaça (2008), a partir da transferência dos centros comerciais da Cidade Baixa para a Cidade Alta, em 1990, resultado na expansão desta última, a Cidade Baixa, como também a própria Ribeira, foi entrando em declínio e mudando suas feições. Enquanto a Cidade Alta foi gradativamente se verticalizando, a Ribeira manteve-se majoritariamente horizontal e acompanhou o ritmo mais lento de crescimento da Cidade Baixa.

Nas primeiras duas décadas do século XXI, o bairro da Ribeira ainda preserva suas expressões de cidadezinhas de interior, sendo conhecida por ser uma das áreas da capital, em que ainda mantém o passado presente na vida dos moradores, evidenciados pela arquitetura dos antigos casarões e pelo ar bucólico e tranquilo presentes no bairro (MONTALVÃO, 2010).

Segundo as informações do mapa da educação de Salvador, o bairro hoje, 2020, possui quatro escolas municipais, sendo a Escola Alfredo Amorim, no largo do Papagaio, a Simões Filho, na Rua Engenheiro Fernando Baggi, a  Profª. Maria José de Paula Moreira, na Rua Anibal Silva Garcia, e a Eloyna Barradas, na Rua Arauá. Além do Centro Municipal de Educação Infantil Eloyna Barradas, na Rua Clóvis de Almeida Maia

Contudo, assim como outros bairros da cidade, a Ribeira também possui problemas de infraestrutura urbana. Drenagem pluvial inadequada, situação que provoca alagamentos, acúmulo de lixo nas ruas e atraso em obras de revitalização. Vale mencionar também, que o bairro não possui Unidade Básica de Saúde (UBS), nem Unidade de Saúde da Família (USF)3.

 

 

1 De acordo com a leitura de  Lorenzoni (2015), o estilo Eclético é a forma de projetar e construir edifícios que englobavam referências, elementos e características arquitetônicas de épocas passadas. No Solar Amado Bahia, por exemplo, essas referências estão marcadas pelos elementos trazidos de diversos países europeus - o edifício possui uma capela com entalhes dourados, paredes revestidas de espelhos franceses, pisos em mármores carrara, vidros de janelas e portas finos como cristais e estruturas externas metálicas importadas da França.

Segundo informações da Fundação Gregório de Matos (2007), os aviões decolavam do mar, e devido à isso eram chamados de hidroaviões. E como era na água, ao invés de aterrissar, eles amerissavam. Os hidroaviões amerissavam em uma ponte em forma de Y. A noite formavam uma fileira de canoas com tochas para iluminar o lugar onde pousariam os hidroaviões. Quando os aviões se aproximavam era tocada uma sirene para alertar aos banhistas e condutores de barcos para que se afastassem do local de pouso, a fim de evitar acidentes.

3 Segundo os dados disponibilizados pela Prefeitura Municipal de Salvador, no Mapa da Saúde, disponível em links neste site.

 
 

 REFERÊNCIAS:

 

ARAGÃO, Fernanda Maria de Freitas. Ribeira de Itapagipe: História e Cotidiano de um bairro de Salvador. Salvador, 2012. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/31556>. Acesso em: 03 de abr. 2020.

FLEXOR, Maria Helena Ochi; SCHWEIZER, Peter (org.). Península de itapagipe: patrimônio industrial e natural. Salvador: EDUFBA, 2011.

LORENZONI, Hélade de Oliveira. O Eclético. UniRitter. Rio de Janeiro, 2015.

MONTALVÃO, Morgana. Um Olhar sobre a Ribeira: uma viagem no tempo. Salvador, 2010. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/morganamontalvao/pdf-um-olhar-sobre-a-ribeira-uma-viagem-no-tempo>. Acesso em: 27 de mar. 2020.

OLIVEIRA, Silvio. Um cartão-postal chamado Ribeira. Portal Infonet. Salvador, 06 jun. 2019. Disponível em: <https://infonet.com.br/salvador-ba-um-cartao-postal-chamado-ribeira/>. Acesso em: 28 abr. 2019.  

SERPA. Angelo. Mergulhando Num Mar de Relações: Redes Sociais como Agentes de Transformação em Bairros Populares. Geografia, Rio Claro, v. 30, n. 2, p. 211-222, mai./ago. 2005.

SOUSA, Maria Marineide. Arranjo Produtivo Local de Confecções da Rua do Uruguai/Itapagipe. 137f. Tese (Mestrado em em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social) - Programa de Mestrado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social, Universidade Católica do Salvador. Salvador, 2010.

 

 

OUTRAS INDICAÇÕES DE REFERÊNCIAS:

 

CARDOSO, Ceila Rosana Carneiro. Arquitetura e Indústria: A Península de Itapagipe como sítio industrial da Salvador Moderna 1891-1947. Dissertação de Mestrado (Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo. São Carlos, 2004. 

GUERRA, Gutemberg. Memória incerta da Ribeira. Belém: Paka-Tatu, 2011. 

INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA. Salvador era assim II. Organização de José Borges. Redação de Gláucia Lemos; orientação histórica de Cid Teixeira. Bahia, 2001 

RAMOS, Cecy; CEDRAZ, Antonio. Turma do Xaxado: A Península de Itapagipe. Salvador: Ed. Cedraz, 2010.

 

 

SOBRE O AUTOR E A AUTORA:

*Jonas Oliveira Santana é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, bolsista do observaSSA, com financiamento da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas - PROAE. 

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA. 

 

 

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Galeria

  • Vista da Baía de Itapagipe por Thaís Rebouças, 2021