Pituba

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Pituba contava com uma população total de 65.160 habitantes, a maior parte se autodeclarou branca (55,51%), do sexo feminino  (56,32%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (51,21%). No que diz respeito aos domicílios, 8,19% dos responsáveis não eram alfabetizados e apesar de 29% estar na faixa de 5 a 10 salários mínimos, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$7.513,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 99,84% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,71% com abastecimento de água e 99% com esgotamento sanitário.

 

Histórico

Texto de Clara Souza Ferreira Rocha* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 17 de setembro de 2021

 

Segundo a Fundação Gregório de Matos, o nome Pituba significa brisa, sopro forte, hálito, tem origem no idioma Tupi e provavelmente foi relacionado ao bairro pelo mesmo ter um vasto coqueiral e dunas, o que remete a essa ideia de local arejado. Os primórdios do bairro estariam vinculados à retirada dos pescadores da aldeia no Rio Vermelho, que de lá foram transferidos para as terras conhecidas como Fazenda Pituba (O LUGAR…, 1987). 

O bairro da Pituba já existia, enquanto fazenda, desde o início do século XVII, quando, segundo Stephanus apud Andrade (2005), se sabia da existência de uma Capela de taipa com a imagem de Nossa Senhora da Luz, trazida de Portugal. O autor acrescenta que, de seu surgimento até os 50 primeiros anos do século XX, a Pituba funcionou como uma fazenda de único dono, que possuía um imenso coqueiral e abrigava uma pequena vila de pescadores. 

Apesar de ter um único dono, ele não foi sempre o mesmo. Andrade (2005) descreve que as terras onde hoje se localiza a Pituba foram doadas por Tomé de Souza a Dom Antônio Ataíde - Conde de Castanheira - o qual as deixou de herança para o filho, José Félix - Barão do Rio Vermelho - que em 1865 lançou uma sociedade na qual pretendia urbanizar as fazendas das quais sua família era dona, chamando o projeto de “Cidade Luz”1. Ao falecer, em 1881, José Félix deixou as fazendas para a mulher e os filhos, esses posteriormente a venderam para o português Manoel Dias da Silva. No início do século XX o português, doente, resolveu retornar para Portugal, transferindo as terras como herança para seu cunhado e esposa - Joventino Pereira da Silva e Alcina Pereira da Silva. 

Em 1919, Joventino Silva encomendou ao engenheiro Theodoro Sampaio o Projeto da Cidade Luz, que, segundo Sampaio apud Andrade (2005), tinha como objetivo desenvolver um bairro para ocupação de pessoas de alta renda. O projeto foi aprovado em 1932, dando início ao loteamento das terras na Pituba e teve destaque pelo esquadrinhamento do terreno que estabeleceu a abertura de 10 vias longitudinais paralelas à linha da costa, algumas das quais seriam denominadas avenidas, e 15 transversais perpendiculares às primeiras, ruas que têm nome de unidades da Federação. 

Apesar de ter o projeto aprovado e em execução desde 1932, Lima apud Andrade (2005) descreve que ainda no final da década de 1950 a Pituba era uma área quase despovoada, na qual ainda se encontrava o vasto coqueiral e as casas dos pescadores, possuindo pouquíssimos edifícios, que chegavam a no máximo três andares. 

Em 1959, aconteceu uma negociação entre Joventino Silva e a Prefeitura Municipal de Salvador (PMS). O proprietário das terras fez uma doação de cerca de 264 mil m² à PMS, que em contrapartida adquiriu mais 460 mil m², formando uma reserva ambiental, também por exigência do antigo proprietário. Em  31 de outubro de 1973, foi criado nessas terras, através do Decreto Municipal nº 4.522, o Parque Joventino Silva, conhecido como Parque da Cidade2, que foi inaugurado em 1975. 

Andrade (2005) sinaliza alguns fatores que foram importantes para a expansão da cidade no sentido do vetor norte da orla atlântica, o que inclui o bairro da Pituba. Um deles foi a pavimentação, em 1949, da via que liga Amaralina à Itapuã, compondo a Avenida Otávio Mangabeira. O outro foi que, em 1954, Joventino Silva encomendou o projeto e a construção do que vem a ser a atual igreja de Nossa Senhora da Luz, que ficou pronta em 1960. Nessa mesma década, ocorreram algumas outras grandes construções e reformas de equipamentos que marcaram as tentativas de integração do bairro com a cidade, como a construção do Colégio Militar de Salvador (CMS), inaugurado em 1961; o Clube Português3, em 1964; e posteriormente, a Avenida Paulo VI, que foi executada devido a demanda por acesso ao recém inaugurado CMS. Com o tempo, Andrade (2005) afirma que a referida avenida passou a ser vista como um eixo central para a interiorização do bairro e dos fluxos locais, se tornando, mais tarde, uma importante via de ligação da Pituba com o bairro do Caminho das Árvores.

De acordo com Teixeira (2014), ainda na década de 1960, foi aprovado o Loteamento Parque Nossa Senhora da Luz4, junto ao fim de linha da Pituba, que naquele momento correspondia ao final da Avenida Paulo VI. Além da construção do Conjunto Habitacional Júlio César, no Loteamento Jardim Pituba. Até a década de 1970, surgiram ou foram ampliados vários outros loteamentos5

Em 1958, foi aprovada a ampliação dos Loteamentos Cidade da Luz I, II e III6; em 1968, a criação dos Loteamentos Parque São Vicente, Parque Santo Antônio e do Aquarius (TEIXEIRA, 2014). Mesmo tendo surgido em áreas descritas como rurais, os loteamentos funcionaram como reservas de terras para uma futura especulação imobiliária, que de fato se concretizou com a construção de infraestruturas públicas nessas áreas, como a pavimentação de ruas e avenidas, esgotamento sanitário, entre outros (BEZERRA, 2001). 

Carvalho e Pereira (2014) acrescentam que o conjunto de ações do estado e do poder privado foram os propulsores para o surgimento dessa nova centralidade - vetor Norte/Iguatemi - e sua expansão futura. Algumas dessas ações foram a duplicação da BR-324, que liga Salvador a Feira de Santana, em meados dos anos 1970. E o deslocamento do Centro Administrativo da Bahia (CAB) do núcleo histórico para a Avenida Luiz Viana Filho, conhecida como Paralela (VASCONCELOS, 2002; RODRIGUES, 2001).

Outras ações apontadas como fatores de expansão e consolidação do bairro, citadas por Andrade (2005), foram a implantação do antigo Shopping Iguatemi7, em 1975, o Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (DETRAN-BA) e o Terminal Rodoviário de Salvador, em 1974. Os autores esclarecem ainda que a implantação das avenidas Tancredo Neves, em 1968, Magalhães Neto, em 1970, e Antônio Carlos Magalhães, em 1975, consolidaram os bairros da Pituba, Itaigara e Caminho das Árvores. 

Em 30 de novembro de 1976, através do Decreto Municipal n° 5.065, o bairro é declarado como a Zona Homogênea da Pituba. O objetivo da concretização desta Zona era de densificar a área, atraindo as camadas da população de mais elevado padrão, atendidas pelo mercado formal de habitação e estabelecer novas áreas para localização de atividades econômicas terciárias (ANDRADE, 2005).

Outros loteamentos surgem nas duas últimas décadas do século XX, merecendo destaque pela sua amplitude, o Loteamento Pituba Ville, lançado em 1997, que, segundo dados da Gazeta Mercantil apud Andrade (2005), surgiu de um pool8 de cinco construtoras - Costa Andrade, Lembram, MRM, Sarti e Mendonça e Suarez - em área anexa a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos9

É importante destacar que, de acordo com Teixeira (2014), o loteamento Pituba Ville foi fruto de desafetação de área pública, que se constitui em uma espécie de negociação entre o ente público e o privado. Ou seja, quando uma área pública é passada para o privado com contrapartidas. No caso do Pituba Ville, a prefeitura permutou a área desafetada por outra de propriedade do beneficiário, o Centro Educacional Preparatório Ltda, situado na Avenida Aliomar Baleeiro, antiga Estrada Velha do Aeroporto. Em contrapartida, o beneficiário tinha como obrigação construir, na área que era do município, um equipamento de uso escolar, além de destinar áreas verdes públicas. Todavia, a autora explicita que além do colégio ser de uso privado - Colégio Anchieta inaugurado em 2003 -, as áreas verdes acabaram se tornando de uso privativo, uma vez que correspondem ao entorno do Pituba Ville, por conseguinte têm seu acesso controlado por uma única entrada do loteamento.

No início dos anos 2000, a área que envolve a Praça Nossa Senhora da Luz e as avenidas Manoel Dias da Silva e Oceânica passaram por uma requalificação. Segundo Cunha e Guimarães (2007), apesar da presença de a Igreja está voltada para à praça, como elemento polarizador da população usuária, esta última com o passar dos anos, já não conseguia atrair as pessoas da mesma forma. Sua requalificação, então passou a ser uma reivindicação dos moradores.

O bairro da Pituba continua, ainda hoje, como uma das áreas mais dinâmicas em termos de ritmo de crescimento, em vista da evolução do número de domicílios aí existentes. É um bairro onde a oferta de produtos e serviços, apesar de ser diversa, é voltado para o privado, e isso fica claro, por exemplo, ao analisarmos a oferta de serviços de saúde e educação no bairro. Segundo o Mapa da Saúde presente na aba de links deste site, a Pituba não dispõe de nenhum programa de serviço público de saúde municipal, apesar de ter diversas clínicas com atendimento privado. O mesmo acontece com escolas, o bairro conta com várias instituições de ensino privado, porém, segundo o Encontre a escola do seu bairro, não dispõe de nenhuma da rede municipal de ensino, embora tenha duas da rede estadual, o Colégio Estadual Raphael Serravale, que atende o ensino fundamental e médio e o Colégio Estadual Satiro Dias, que atende ao ensino profissionalizante, fundamental e médio. 

 

 

1 Porém, devido ao momento de declinio econômico que o estado e o país passavam, somado ao fim da escravidão e a redução das atividades agropecuárias, foi somente no século XX, sob o comando do baiano e engenheiro civil Theodoro Sampaio, que o projeto saiu do papel.

2 Atualmente, 2021, o parque é uma faixa de Mata Atlântica preservada dentro da cidade.

3 O clube encerrou suas atividades, em 2001, e devido a dívidas acumuladas pelo não pagamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), teve sua área de 2.500 m² transferida para a Prefeitura Municipal de Salvador. Em dezembro de 2018, a prefeitura inaugurou no local a Arena Aquática Salvador.

4 Em 2021, corresponde a área que vai desde o Pituba Ville até o cruzamento da avenida Paulo VI com a rua Aristides Fraga Lima.

5 Loteamentos legais são definidos segundo a Lei Federal n° 6.766, de 19 de dezembro de 1979 em que considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes. E que coloca ainda que é preciso ter vias de circulação, sistema de escoamento de águas pluviais, rede para o abastecimento de água potável e soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.

6 Atualmente, as ampliações II e III correspondem a um trecho do bairro Costa Azul. A ampliação I corresponde ao que hoje é o Loteamento Pituba Ville e o terreno remanescente dos Correios, onde funcionava, até 2018, sua Agência Central (TEIXEIRA, 2014).

7 Atualmente, shopping da Bahia.

8 É quando um grupo de investidores se organiza em um grupo ou “pool” para fazer aplicações financeiras através da compra de um número maior e diversificado de imóveis, visando reduzir os riscos de vacância, desvalorização e riscos territoriais ou regionais (GONDIM, 2013).

9 O prédio onde funcionava a agência, que foi fechada em 2018, está à venda desde 2019.

 

 

REFERÊNCIAS:

 

ANDRADE, Adriano Bittencourt. O espaço em movimento: a dinâmica da Pituba no século XX. Salvador, EDUFBA, 2005. 

BEZERRA, Bárbara Stolte. Loteamento Parque Santo Antônio: um estudo de caso sobre a produção capitalista da moradia verticalizada em Salvador-Ba. Salvador: 2001. (Dissertação de mestrado). Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia.

BRASIL. Decreto-Lei nº 6.766 de 19 de dezembro de 1979. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 20 dez. 1979. Seção 1, p. 19457.

CARVALHO, Inaiá Maria Moreira de; PEREIRA, Gilberto Corso. Estrutura social e organização social do território na Região Metropolitana de Salvador. In: _____ (editores). Salvador: transformações na ordem urbana. Rio de Janeiro: Letra Capital, Observatório das Metrópoles, 2014, p. 109-140.

CUNHA, Rita Dione Araújo; GUIMARÃES, Caroline Pedreira. Paisagem recuperada: o projeto de qualificação da Praça Nossa Senhora da Luz em Salvador-BA. Paisagem ambiente: ensaios, n. 23, São Paulo, p. 90- 100, 2007. 

FUNDAÇÃO GREGÓRIO DE MATOS. Salvador, Cultura todo dia. Pituba. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/vivendo-polo.php?cod_area= 5 & cod_polo=63>. Acesso em 27 de nov. de 2020. 

FONSÊCA, Adilson. Sede do Clube Português será demolida até o final do ano. A Tarde. Salvador, nov. 2007. Disponível em: <https://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1282399-sede-do-clube-portugues-sera-demolida-ate-o-final-do-ano>. Acesso em: 1 dez. 2020.

G1 BA. Arena Aquática com piscina olímpica é inaugurada na orla de Salvador. G1.Globo. Salvador, 22 dez. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/12/22/arena-aquatica-com-piscina-olimpica-e-inaugurada-em-salvador.ghtml>. Acesso em: 15 dez. 2020.

GONDIM, Gabriel Côrtes Magalhães. Análise de ciclos imobiliários e de estratégias de investimentos. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola Politécnica, Projeto de Graduação. Rio de Janeiro,  2013.  

LIMA, Fernanda. Adeus aos Correios da Pituba: agência é fechada e prédio será esvaziado até março. Correio. Salvador, 7 nov. 2018. Disponível em: <https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/adeus-aos-correios-da-pituba-agencia-e-fechada-e-predio-sera-esvaziado-ate-marco/>. Acesso em: 9 dez. 2020. 

O LUGAR PARA ONDE SOPRA O VENTO. A Tarde, 15 abr. 1987, Caderno 1, p. 1. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/A%20TARDE,%2015.04.1987.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2020.

RODRIGUES, Adilma de Jesus. Formas modernas de comércio varejista em áreas residenciais populares na cidade de Salvador-BA: o caso do Shopping Center Ponto Alto, no bairro de Pau da Lima. 2001. (Dissertação de mestrado). Mestrado em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia.

TEIXEIRA, Marina Coêlho. Ao (des)afeto do público: a perda de áreas públicas de Salvador pelo instrumento da desafetação (1979‐2012). 2014. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014. Disponível em: <https://ppgau.ufba.br/sites/ppgau.ufba.br/files/ao_des_afeto_do_publico_marina_teixeira.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2020. 

VASCONCELOS, Pedro de A. Salvador: transformações e permanências (1549-1999). Ilhéus: Editus, 2002.

VILLAR, Marcela. Quase dois anos inativo: antigo prédio dos Correios na Pituba não encontra investidores. Correio. Salvador, 13 out. 2020. Disponível em: <https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/quase-dois-anos-inativo-antigo-predio-dos-correios-na-pituba-nao-encontra-investidores/>. Acesso em: 9 dez. 2020. 

 

 

SOBRE AS AUTORAS:

*Clara Souza Ferreira Rocha é graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, estagiária do observaSSA com financiamento da Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento - PROPLAN. 

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA. 

 

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