Paripe

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Paripe contava com uma população total de 55.039 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (56,14%) e preta (28,48%), do sexo feminino (52%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (49,82%). No que diz respeito aos domicílios, 5,46% dos responsáveis não eram alfabetizados e apesar de 43,2% estar na faixa de 0 a 1 salário mínimo, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$1.013,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 93,06% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 98,3% com abastecimento de água e 88,42% com esgotamento sanitário.

Histórico

Jonas Oliveira Santana* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 28 de julho de 2021

 

Paripe é um dos bairros situados na área conhecida como Subúrbio Ferroviário de Salvador1. Recebeu esse nome dos indígenas tupinambás, os primeiros povos a habitarem a área, e não se pode afirmar com exatidão o seu significado, embora alguns autores declarem que Paripe trata-se de um tipo de pesca ou armadilha para peixes (MATOS, 2018).

Segundo Fonseca e Silva (1992), as origens do bairro estão relacionadas com a existência de um antiga fazenda, nomeada como Fazenda Meireles, onde existia uma pequena fábrica de azeite de dendê que atendia à fazenda e aos poucos moradores de seu entorno.

De acordo com Rossi (2016), Paripe se manteve rural até 1860, quando foi implantado na área um trecho da ferrovia que ligava Salvador a Juazeiro, nomeado Calçada-Paripe, tal fato provocou diversas modificações no que corresponde ao bairro, que perdeu gradativamente o seu caráter rural. O mesmo autor ainda afirma que a ferrovia intensificou as ocupações no bairro, principalmente nas proximidades da estação ferroviária, contribuindo dessa forma para o início do processo de urbanização de Paripe.

Apesar de suas primeiras ocupações datarem da segunda metade do século XIX, segundo Gordilho e Silva (2004), o bairro passou a intensificar o seu processo de ocupação a partir de 1928, quando o comerciante Amado Bahia compra as terras da Fazenda Meireles a qual concentrava boa parte do território que corresponde ao atual bairro de Paripe. Para o que Rossi (2016) complementa, essas terras haviam sido vendidas ao empresário João Martins2, dono da Empresa de Carnes Verdes da Bahia, que adquiriu a fazenda com interesse na valorização das terras. As afirmações de Rossi (2016), se relacionam com as de Gordilho e Silva (2004), acrescentando que após várias tentativas de desenvolvimento o empresário resolveu lotear a área.

A partir de 1930 surgem os primeiros loteamentos do bairro de Paripe, o Fazenda Meirelles I, II e III, comercializados e divididos pela Imobiliária Martins e Cia Ltda, empresa também de propriedade do empresário João Martins (SOUZA, 2005). Segundo Rossi, nesse mesmo período, o empresário cedeu uma parte de suas terras para a construção de um Conjunto Residencial direcionado aos servidores da Marinha, nomeado como Conjunto Almirante Tamandaré.   

Já Souza (2005) acrescenta que o referido empresário visava a criação de loteamentos direcionados para a então classe média e alta da sociedade soteropolitana, devido às belas paisagens existentes na área. Entretanto, com a valorização dos bairros próximos ao então centro3 de Salvador, somado à instalação do Centro Industrial de Aratu (CIA) e demais indústrias como à Indústria de Mamona da Bahia S.A. (Imbasa) e a Fábrica de Cimentos Aratu, tal objetivo acabou não sendo concretizado. 

Isso ocorreu porque Paripe era uma área cujas terras eram mais baratas e possuía um transporte que facilitava a mobilidade, transformando-o em um bairro de atração para pessoas de classes econômicas mais baixas, que não tinham como arcar com os valores de moradias e terrenos comercializados próximos ao então centro da capital. Intensificando desse modo o processo de povoamento do bairro e se distanciando da ideia de transformá-lo em um bairro direcionado para a “elite” (FONSECA; SILVA, 1992). Impondo assim uma segregação territorial e socioeconômica aos demais grupos sociais que recorriam aos bairros periféricos, que neste período, embora fossem mais acessíveis, eram também destituídos de infraestrutura básica e de serviços.

Os mesmos autores ainda adicionam que com a instalação da Fábrica Têxtil São Brás, em Plataforma, no final do século XIX, ocorreu à criação de novos postos de trabalho, o que repercutiu na atração de novos moradores para Paripe, dada a sua proximidade com o emprego, e contribuiu diretamente para seu processo de expansão residencial.

Para Rossi (2016), entre as décadas de 1960 e 1980, o bairro de Paripe passou por diversas transformações, perdendo definitivamente os resquícios da estrutura rural herdada de suas origens. Durante esse período o bairro passou a se desenvolver e se expandir rapidamente e a contar também com a instalação de diversas indústrias e outros empreendimentos como: o Terminal Aquaviário da Gerdau/Usiba4, uma Olaria - fábrica de blocos e a Indústria de Líquido Carbônico, localizada na orla de Tubarão. O autor ainda afirma que no final da década de 1970, Paripe se consolidava como um bairro de relevância industrial, residencial e de atividades econômicas.   

Com o seu rápido crescimento Paripe acabou consolidando diversas funções, destaca-se, a educacional, a industrial e a residencial. Sendo que a função residencial sempre prevalecia diante das demais, principalmente, devido aos baixos preços dos lotes, aluguéis baratos e a presença do trem que saia de 20 e 20 minutos (FONSECA; SILVA, 1992).

Os já citados autores ainda dizem que nessa mesma época, embora o bairro já contasse com uma escola primária estadual e uma Escola de Menores5, Paripe ainda apresentava uma carência na educação, o que obrigava os estudantes que residiam no bairro a se deslocarem em busca de escolas. Geralmente esses fluxos eram para o bairro de Periperi ou o então centro de Salvador6

Com esses fluxos de pessoas que saiam de Paripe todos os dias, seja para estudar ou trabalhar, o bairro passou a ser classificado como um típico “bairro dormitório”7. O seu processo de consolidação está diretamente relacionado a instalação de atividades produtivas em suas proximidades, como a Petrobras, a Fábrica de Cimento Aratu e tantas outras, a facilidade de ligação ao então centro da cidade, a chegada de diversas famílias vindas do interior do estado e de demais áreas da cidade, que optavam por esse local em decorrência dos altos preços de aluguéis em outros bairros de Salvador.  

A partir de 1968, o Estado interviu de forma mais direcionada à questão habitacional no bairro, construindo 389 casas destinadas aos trabalhadores da Base Naval, através da empresa Habitação e Urbanização da Bahia S.A., mais conhecida pela sigla URBIS8. Com a instalação desse conjunto habitacional, o bairro passou a contar também com melhorias na sua infraestrutura urbana e instalação de novos bens e serviços, tendo o Estado como o agente de produção direta desse espaço urbano. Dentre essas intervenções destaca-se a construção de diversos conjuntos habitacionais e da Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana), em 1970, desempenhando um papel fundamental na consolidação não só de Paripe, como de todo o Subúrbio Ferroviário. A instalação de tal avenida facilitou a ligação com as demais áreas da cidade e nos deslocamentos de mercadorias (FONSECA; SILVA, 1992).

Os loteamentos tiveram continuidade a partir da década de 1970, com a aprovação das etapas II e III do loteamento Fazenda Meireles, que pertenciam à empresa de Carnes Verdes da Bahia Ltda, sendo aprovada a comercialização de 2.234 lotes, que vieram a se tornar irregulares posteriormente, devido a sua ocupação espontânea. Nesse mesmo período, em 1972, surge o Loteamento Parque Setúbal, da Sociedade Territorial Ltda (SITEL), que obteve autorização para comercializar 1.571 lotes, entretanto, em pouco tempo o loteamento também teve suas áreas comuns ocupadas de maneira irregular (VASCONCELOS, 2016).

Na década de 1980, Vasconcelos (2016) afirma que embora Paripe fosse um dos bairros mais afastados do então centro de Salvador, foi o que apresentou o maior crescimento da capital na época, chegando a concentrar cerca de 47% de toda a população do Subúrbio Ferroviário. 

A partir da década de 1990, com o fechamento de diversas indústrias no bairro, como a Companhia de Cimento Salvador (COCISA) e diversas outras, Rossi (2016) traz que como alternativa de contornar os problemas ocasionados por esse fato, o poder público também interferiu nas questões econômicas de Paripe, através de incentivos fiscais, que fez com que fossem instalados diversos comércios de bens e serviços. Culminando no desenvolvimento das negociações locais, que passou a contar com uma vasta rede de pequenos comércios direcionados a suprir as necessidades dos moradores do bairro. 

Rossi (2016) ainda evidencia que foram muitas as modificações em Paripe, entre o final do século XX e início do XXI, ressaltando que de modo geral o bairro continuou a ser uma área habitada majoritariamente por pessoas de menor poder aquisitivo, que se instalavam basicamente próximas a orla de Tubarão, nas imediações da Rua Iriguaçu. Constituindo um contínuo espaço urbano que, posteriormente, foi demarcado como uma Zona Especial de Interesse Social9 116 (ZEIS-116).

Ainda sob o ponto de vista do autor, nos anos 2000, o bairro permaneceu vulnerável nos quesitos ligados à segurança e infraestrutura urbana, além das áreas com maior concentração de pessoas em condições de vulnerabilidade social e econômica e dos impactos ambientais decorrentes da instalação das diversas indústrias nos anos anteriores. 

Em 2014, sob a gestão do então prefeito de Salvador Antônio Carlos Magalhães Neto (ACM Neto), foi entregue ao bairro de Paripe a requalificação da orla de Tubarão. De acordo com Silva (2016), foram investidos um total de 3,5 milhões de reais provenientes de uma parceria público privada. Com as obras foram implantados pisos intertravados de concreto e a circulação compartilhada entre veículos, pedestres e ciclistas.

Além disso, os moradores passaram a contar com áreas para estacionamento, uma pista de skate, uma pista de caminhada, um parque infantil, uma pista tátil, bancos de concreto, bem como a quadra de futebol que foi reformada (SOUZA, 2016). Entretanto, ainda de acordo ao que o autor já citado aponta, alguns equipamentos previstos no projeto nunca saíram do papel, como à implantação de quiosque ao longo da orla e de piso intertravado no entorno da Praça Praça Benjamin de Souza.  

No quesito comercialização de bens e serviços, em 2021, o bairro é atendido por diversos bares, restaurantes e distintos tipos de estabelecimentos comerciais que suprem as necessidades dos moradores. Na saúde, de acordo com as informações do Mapa da Saúde, presente na aba de links deste site, Paripe conta com quatro Unidades de Saúde da Família, localizadas nas ruas Santa Filomena, Monte Clara, Juracy Magalhães de Paripe e na Rua Carioca. 

O bairro ainda é atendido por diversos estabelecimentos de ensino tanto públicos quanto privados. No caso, dos relacionados ao ensino público, no Encontre à escola de seu bairro, também disponível neste site, Paripe tem 11 escolas a nível municipal, sendo elas: o Centro Municipal de Educação Infantil Abdias Nascimento; Creche e Pré Escola Primeiro Passo Tubarão; Escola Municipal Almirante Ernesto de Mourão Sá; Escola Municipal D Pedro I; Escola Municipal de Paripe; Escola Municipal Fernando Presidio; Escola Municipal Nossa Senhora da Conceição; Escola Municipal Presidente Médici; Escola Municipal Rui Barbosa e a Escola Municipal Visconde de Cairu. 

Vale mencionar também que atualmente, em 2021, o bairro concentra um considerável número de terreiros de candomblé, sendo 42 no total, dos quais o Terreiro Filho de um Sessetaquara é o mais antigo, fundado em 1961. O terreiro fica localizado na Rua 13 de Maio.

 

 

1 Segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do estado da Bahia, o Subúrbio Ferroviário engloba 22 bairros de Salvador, que juntos concentram cerca de 24,55% da população total da capital.

2 De acordo com a Secretaria de Comunicação da PMS, João Martins foi um empreendedor de Paripe, que tinha como objetivo transformar a área em um grande bairro.

3 O que se entende como centro da cidade varia conforme o momento histórico de ocupação e a forma de expansão da cidade, neste sentido, o centro a que se refere Souza (2005) é aquele que abrange a área da rua Chile e parte do bairro do Comércio.

4 Destina-se ao recebimento de minério de ferro bruto ou pelotizado e de sucata de ferro prensada.

5 De acordo com Rossi (2016), a escola de menores era uma instituição responsável por receber menores infratores da cidade de Salvador, para que lá cumprissem a ressocialização.

6 Como dito anteriormente, o que se entende como centro da cidade varia conforme o momento histórico de ocupação e a forma expansão da cidade, assim sendo, o centro que Fonseca e Silva (1992) se referem, trata-se da nova centralidade ocasionada pela implantação do então Shopping Iguatemi, atual Shopping da Bahia, inaugurado em meados da década de 1970.

7 De acordo com Coutinho (2011), classifica-se como bairro dormitório, aqueles onde os seus moradores exercem a maioria das suas atividades em outras áreas da cidade, retornando para o bairro de origem apenas durante a noite.

8 A Habitação e Urbanização da Bahia S.A. - URBIS, foi uma empresa de economia mista, constituída por tempo indeterminado. A empresa atuava principalmente na construção de habitação social e no desenvolvimento urbano do estado, sendo destituída em 1998, quando a responsabilidade pela construção dos conjuntos habitacionais e expansão urbana na Bahia foram transferidos para a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia - CONDER (MENDONÇA, 1989).

9 De acordo com o PDDU (2016), Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) são áreas destinadas à regularização fundiária dentro das cidades, essas zonas são destinadas para produção, manutenção ou qualificação de Habitações de Interesse Social, dentro do município.

 

 

REFERÊNCIAS:

COUTINHO, Daniel Mendes. Caracterização do Bairro de São Judas Tadeu no Município de Pouso Alegre-MG: Entre o Rural e o Urbano. Trabalho de Conclusão de Curso. Instituto de Ciências da natureza da Universidade Federal de Alfenas-MG. Alfenas, 2011.

GÓIS, Ana. Mais de Salvador: Solar Amado Bahia, Salvador, 2012. 

GORDILHO, Angela Maria. Da idealização do subúrbio à construção da periferia - Estudo da expansão suburbana no século XX, em Salvador-BA. In: VIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, Niterói, 2004.

MENDONÇA, Frederico. A estratégia de localização dos conjuntos habitacionais da URBIS em Salvador, entre 1964 e 1984. Rua, Salvador-BA, v.2, n.2, p. 61-83, 1989. 

MAURÍCIO, Edmara Matos. Patrimônio Local de Paripe: Propostas de Ações Educativas em Sala de Aula. Trabalho de Conclusão de Curso, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2018. 

ROSSI, Rinaldo de Castilho. Da Fazenda ao Loteamento Fortificado da Sapoca: À Urbanização na orla de Tubarão (Salvador-BA). 81f. Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2016. 

SILVA, Mateus Barbosa Santos. Intervenções Públicas em Espaços Litorâneos de Salvador: Um Estudo de Caso das Requalificações Urbanas das Orlas de São Tomé de Paripe e Tubarão. Monografia, Colegiado do curso de geografia, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2016. 

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO. Paripe ganha Praça João Martins requalificada pela Prefeitura.Salvador, 2020. Disponível em:< http://www.comunicacao.salvador.ba.gov.br/index.php/todas-as-noticias-4/57277-paripe-ganha-praca-joao-martins-requalificada-pela-prefeitura>. Acesso em: 07 de out. de 2021. 

SILVA, Sylvio Carlos Bandeira Mello; FONSECA, Antonio Angelo Martins da. A produção do subúrbio ferroviário de Salvador: os exemplos de Paripe e Periperi. Veracidade, Salvador-BA, v. 2, n.4, p. 67-80, 1992.

SOUZA, Flávia Silva de. Caracterização Socioeconômica de um Bairro Popular em Salvador: O caso de Paripe, no Subúrbio Ferroviário. Salvador, 2005.

VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Salvador: transformações e permanências (1549-1999). Salvador: EDUFBA, 2016.

 

 

SOBRE O AUTOR E A AUTORA: 

* Jonas Oliveira Santana é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, bolsista do observaSSA, com financiamento da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas - PROAE.

** Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA.

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