Ilha de Maré

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Ilha de Maré contava com uma população total de 4.236 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (63,15%) e preta (29,84%), do sexo masculino (51,46%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (45,94%). No que diz respeito aos domicílios, 0,85% dos responsáveis não eram alfabetizados, e apesar de 61,2% estar na faixa de 0 a 1 salário mínimo, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$678,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 90,64% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 92,83% com abastecimento de água e 5,29% com esgotamento sanitário.

Histórico

Texto de Clara Souza Ferreira Rocha* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 15 de maio de 2020

 

 

A Ilha de Maré se diferencia da maioria dos bairros de Salvador por conta da sua condição geológica, como o próprio nome já sugere. Foi definida como um bairro por, além de pertencer ao limite da bacia hidrográfica de Salvador, ter reconstituição histórica e declaração de pertencimento dos moradores, o sentimento de ser, de pertencer àquele lugar, características consideradas no estudo de delimitação1 de bairros de Salvador. É dividida em 16 pequenas localidades na sua borda litorânea: Itamoabo, Botelho, Santana, Neves, Praia Grande, Bananeiras, Maracanã, Porto dos Cavalos, Caquende, Martelo, Amêndoa, Ponta de Coroa, Ponta da 7 Cacimba, Ponta de Areia, Engenho de Maré e Ponta do Ermitão (ESCUDERO, 2011; SALVADOR, 2006a). 

Oliveira (2011) afirma que no início de sua ocupação, a Ilha era povoada pelos tupinambás que resistiram fortemente as inúmeras tentativas de extermínio e colonização dos portugueses. Porém, após diversos enfrentamentos, essa população foi exterminada, dando origem a ocupação oficial da Ilha pela coroa portuguesa. A Igreja de Nossa Senhora das Neves2, construída, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pelo padre e músico Bartolomeu Pires, em 1552, aparece como a primeira construção datada da Ilha. Tendo sido este padre o também responsável pela introdução do plantio de cana-de-açúcar e o trabalho escravo na Ilha, que se intensificaram durante os séculos XVII e XVIII, quando essa recebeu à implantação de novos engenhos.

A partir das narrativas orais3, transcritas pela referida autora, outras histórias a respeito da origem da Ilha de Maré surgem. A principal delas se relaciona aos navios que traziam escravos e por aí passando entravam em rota de colisão, que favorecidos pela geografia, possibilitaram às fugas de alguns desses escravos que passavam a ocupar determinados espaços da Ilha. Nesse sentido, pode-se dizer que até início o século XIX sua ocupação foi favorecida por ser rota de embarcações e por conta da produção de cana-de-açúcar, e no final do mesmo século, ex-escravos procedentes de engenhos estabelecidos no entorno da Ilha e do recôncavo baiano também passaram a ocupá-la. 

Já em 1934, Menezes4 em visita à Ilha, chama atenção também para a quantidade de roças, principalmente de banana, que faziam a prosperidade e abastança do lugar. Menezes destaca, além de banana, a presença da canabrava5, que os trabalhadores forneciam em grande escala aos pescadores de outras regiões e utilizavam também para o artesanato (MENEZES, 1934 apud OLIVEIRA, 2011).  

Em 1950, ocorre a descoberta de petróleo na Bahia, iniciando-se um novo tempo para as terras ao redor da Baía de Todos os Santos. A extração e o refino do petróleo, em larga escala, e o dinamismo daí gerado teve implicações na organização social e do trabalho nesta região. Como exemplo, as autoras destacam a criação do Porto de Aratu e o deslocamento da mão de obra tanto da Ilha de Maré quanto das demais ilhas e de outras cidades do recôncavo. Essa movimentação fez com que os fazendeiros da Ilha de Maré buscassem nova mão de obra, dando início, na década de 1960 e perdurando até 1970, um fluxo migratório de sertanejos para trabalhar nessas fazendas. Muitos deles acabaram fixando residência na Ilha, à maior parte na localidade de Santana. 

A partir da década de 1990, a Ilha passa a ser um destino turístico bastante requisitado na Baía de Todos os Santos (OLIVEIRA, 2011). Um dos principais motivos de seu crescimento como atrativo de turistas foi o “jegue-tour”6, elaborado pela empresa particular de turismo, Bahia Azul. Além disso, merece destaque a relação da Ilha de Maré com os terreiros de candomblé, principalmente os situados na localidade de Praia Grande, a exemplo do Terreiro de Mãe Bina, em Cidade de Palha, na localidade citada. 

A localidade de Santana é considerada “a capital” da Ilha de Maré por concentrar alguns serviços utilizados pelos moradores de toda Ilha, como farmácias, mercados, além da colônia de pescadores e dos marisqueiros. 

Na ilha, encontra-se ainda, cinco comunidades quilombolas - Bananeiras, Praia Grande, Martelo, Ponta Grossa e Porto dos Cavalos -  reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. Segundo o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) e o Mapa de Conflitos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a Ilha passa por problemas comuns às comunidades limítrofes à Baía de Todos os Santos, como a contaminação por resíduos industriais e esgoto residencial. Sendo que à localidade de Botelho é a mais atingida devido à sua proximidade com o Porto de Aratu. Esse também leva às comunidades à enfrentarem os impactos relacionados aos acidentes com embarcações que transportam produtos das indústrias químicas e petrolíferas do Centro Industrial de Aratu (CIA), no município de Candeias. 

Desses impactos têm advindo graves consequências, tais como a crescente poluição química do mar, do mangue e do ar, mortalidade da fauna e flora locais e diminuição significativa do estoque de pescados e mariscos (OLIVEIRA, 2011). Com base em denúncia feita por moradores sobre a poluição da ilha, o MP-BA instaurou um inquérito cívil. A ação toma como referência, além dos relatos dos moradores, um estudo da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA) de 2007, que constatou a contaminação do pescado e de algumas crianças da ilha por chumbo e cádmio. 

Até 2020,segundo os links do Mapa da Saúde e Encontre a escola do seu bairro, desenvolvidos pela Prefeitura Municipal de Salvador e presentes neste site, a Ilha de Maré conta com uma Unidade de Saúde da Família (USF), na localidade de Praia Grande, e uma escola da rede municipal de ensino - Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima - na localidade de Martelo.

 

 

1 SANTOS, Elisabete et. al. O Caminho das Águas em Salvador: Bacias Hidrográficas, Bairros e Bacias.  

2 Nossa Senhora das Neves é padroeira da Ilha de Maré. Sua festa, é comemorada anualmente nos dias 4 e 5 de agosto é o festejo religioso-profano mais importante do local, atraindo pessoas de várias localidades, principalmente de Candeias e Salvador (OLIVEIRA; CARVALHO, 2011).

3 Na dissertação de Oliveira e Carvalho (2011), é feito um levantamento sobre, dentre outras coisas, a origem das localidades da Ilha de Maré através de narrativas orais dos seus moradores.

4 Antônio Inácio de Menezes era médico e farmacêutico formado na Faculdade Federal da Bahia. Além disso, escreveu algumas obras de cunho acadêmico e obras literárias, como, “Na Bahia, em Boa Terra”.

5 Cana-brava é o nome popular de uma planta da família das Poáceas (ex-Gramíneas), também chamada de macega-brava, cardamomo-da-terra ou penachinho. O nome científico da Cana-brava é Erianthus Saccharoides.

6 Passeio turístico pela Ilha de Maré, destinado principalmente, aos estrangeiros, e feito em parte à pé e em parte usando jegues, o que dá seu nome.

 

 

REFERÊNCIAS:

 

AZEVEDO, Esterzilda Berenstein de. Engenhos do recôncavo baiano. Brasília: Iphan/Programa Monumenta, 2009. 

CAROSO, Carlos; TAVARES, Fátima; PEREIRA, Cláudio (eds.). Baía de Todos os Santos: aspectos humanos. Salvador: SciELO-EDUFBA, 2011.

ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz. Comunidade da Ilha da Maré luta para afirmar identidade, titular territórios quilombolas e combater práticas de racismo e degradação ambiental. In: Mapa de conflitos envolvendo injustiça ambiental e saúde no Brasil. 2018. Disponível em: <http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/?conflito=ba-comunidade-da-ilha-da-mare-com-apoio-de-movimentos-sociais-e-entidades-publicas-luta-para-afirmar-identidade-titular-territorios-quilombolas-e-combater-praticas-de-racismo-e-degradacao-ambient>. Acesso em: 18 mar. 2020. 

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Igreja de Nossa Senhora das Neves. Salvador, Brazil: IPHAN. 2018. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1125>. Acesso em: 13 jan. 2020.

OLIVEIRA, Queila de Brito. Ilha de Maré, Salvador/BA: espaço, tempo, territórios e identidade. 2011. 143f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.

PIPOLO, Maria Açcina. Instituições se unem ao MP para preservar a Ilha de Maré. 2010. Disponível em: <https://www.mpba.mp.br/noticia/26337>. Acesso em: 18 mar. 2020. 

SANTOS, Elisabete et. al. O Caminho das Águas em Salvador: Bacias Hidrográficas, Bairros e Bacias. Salvador: CIAGS/UFBA/SEMA, 2010

VEIGA, Elba Guimarães et. al. O Processo de Delimitação dos Bairros de Salvador: Relato de uma Experiência. Revista interdisciplinar de gestão social.  v.1, n.1, 2012, p. 131-147. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/rigs/article/view/10193/8616>. Acesso em: 12 mai. 2020. 

 

 

SOBRE AS AUTORAS:

*Clara Souza Ferreira Rocha é graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, estagiária do observaSSA com financiamento da Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento - PROPLAN.

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA.

 

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