Garcia

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro do Garcia contava com uma população total de 14.180 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (45,16%) e preta (27,67%), do sexo feminino (56,07%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (50,85%). No que diz respeito aos domicílios, 5,55% dos responsáveis não eram alfabetizados, e apesar de 31,7% estar na faixa de 1 a 3 salários mínimos, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$3.123,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 95,05% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,74% com abastecimento de água e 98,42% com esgotamento sanitário.

Histórico

Texto de Caio Vinícius Deiró Teixeira da Silva* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 08 de junho de 2020

 

O Garcia se originou de uma antiga fazenda que pertencia a um dos maiores latifundiários1 das Américas, Garcia D’Ávila2 (SANTOS, et. al., 2010).  Foi apenas no século XIX que a ocupação residencial do bairro teria sido iniciada, quando os empregados do latifundiário começaram a construir suas casas no entorno da fazenda (SEIXAS, 2015; DURVALINA et. al., 2008, s.p.). Esta teve como ponto de partida o portão de entrada da antiga fazenda, onde hoje se localizam os colégios estaduais Edgar Santos e Hildete Lomanto (SEIXAS, 2015).

Anterior a essa ocupação destaca-se a construção do Solar dos Arcos que, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ocorreu em 1781 e serviu como local de moradia de D. Marcos de Noronha, o VIII Conde dos Arcos, também conhecido como o último vice-rei do Brasil, como relata Pagano (1938). Em 1927 a edificação foi vendida para Peter e Irene Beker, que fizeram do Solar a nova sede da sua instituição de ensino, que se chamava Escola Americana; em 1944 a instituição passou a ser chamada de Colégio 2 de Julho e nos anos 2000, também no Solar dos Arcos, foi fundada a  Faculdade 2 de Julho3.

De volta ao século XIX, para além da ocupação residencial, destaca-se a construção do Largo do Campo Grande nas proximidades do Garcia, o que intensificou a movimentação do bairro e de seus vizinhos, não apenas por se tratar de uma praça pública, como também por ter sido o local de construção do monumento em homenagem ao Dois de Julho4, que pode ter funcionado, como um atrativo para o local.

Ainda nesse século foi construída a Capela da Sagrada Família da Cúria do Bom Pastor, que atualmente é conhecida como Sagrada Família Dorotéias, parte do complexo da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. A capela também foi local de funcionamento do antigo Asilo Conde Pereira Marinho, que, segundo Ximenes (1999), foi fundado em 1899 e em seguida passou a ser o Colégio das Irmãs Dorotéias, ambos fechados no ano presente (2020).

Entre os séculos XIX e XX as terras da fazenda foram passadas para a  Companhia Progresso e União Fabril da Bahia, companhia representante de algumas fábricas de tecidos, que no início do século XX veio a falir. A partir desse acontecimento, pequenas partes da antiga fazenda passaram a ser arrendadas para os trabalhadores locais e para as pessoas que iam a Salvador em busca de emprego (ALI..., 2011 s.p.). Segundo Durvalina et. al. (2008), foi a partir desse arrendamento de terras que o bairro do Garcia passou a se consolidar.

No decorrer do século XX instituições de ensino que atendiam a classe média-alta, como o Colégio Sacramentinas, o Antônio Vieira e o 2 de Julho, foram para o bairro. Para além disso, em 1926, ocorreu a criação do bloco carnavalesco Mudança do Garcia que, como relata Oliva Junior (2008) no ano da sua pesquisa, é uma manifestação pública inteligente, criativa e corajosa no contexto do irreverente, do sarcástico e da crítica política e construtiva para a sociedade.

Como importantes avenidas que integraram ainda mais o Garcia ao restante da cidade, favorecendo assim sua consolidação e expansão, podem ser citadas a Avenida Centenário, implantada em 1949; a Vasco da Gama, em 1959; a Reitor Miguel Calmon, em 1970; a Anita Garibaldi, em 1972; e a Vale dos Barris, em 1975. Para além dessas ainda existe a Avenida principal do bairro, a Leovigildo Filgueiras, que articula uma série de serviços em sua extensão, podendo ser citados o Centro Médico Castro Alves, o Centro Cultural Ensaio, o 13º Cartório de Notas de Salvador, uma sede do Banco do Bradesco, a sede administrativa da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, dentre outros.

Nas proximidades da Avenida Leovigildo Filgueiras ainda se encontra a Rádio Excelsior, vinculada à Arquidiocese, tendo sido fundada entre os anos de 1941 e 1944, e tendo uma sede construída no bairro em 1992; e o Beco dos Artistas5. Esse último, juntamente ao bloco Mudança do Garcia e ao sambista Clementino Rodrigues, ou Riachão6, como era conhecido, confere ao bairro uma forte marca cultural para a cidade de Salvador. No entorno do Garcia ainda se encontram o Hotel da Bahia, de 1951, e o Teatro Castro Alves, de 1967, que podem ter levado maior movimentação ao comércio do bairro.

Na atualidade, para além da infraestrutura já citada e de acordo com o Mapa da Saúde e o Encontre as Escolas do seu Bairro, presentes na aba de links do Observatório de Bairros Salvador, o Garcia conta com uma Unidade de Saúde da Família (USF), um Pronto Atendimento Psiquiátrico (PAP), um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), além de três escolas públicas, sendo elas o Centro Educacional Edgar Santos, a nível estadual, a Escola Municipal Hildete Lomanto e a Escola São José Anexa ao Colégio Santíssimo Sacramento, ambas a nível municipal.

 

 

1 Proprietário de uma grande extensão de terra, de um latifúndio.

2 Segundo Pessoa (2003), existiram pelo menos quatro “Garcia D’Ávila” durante as gerações da família, todavia, dois deles se destacaram. O primeiro, Garcia de Sousa D’Ávila, que chegou ao Brasil com Tomé de Sousa, em 1549, e foi responsável pela construção da Casa da Torre, em Praia do Forte; e o segundo, seu neto, Francisco Dias D’Ávila, que não carregava o nome “Garcia”, mas ficou conhecido por ter sido o primeiro entre pelo menos três outros Francisco Dias D’Ávila da família. Neste sentido, não temos como precisar qual dos Garcia D’Ávila foi o proprietário da fazenda, que mais tarde deu nome ao bairro.

3 Disponível em: <https://colegio2dejulho.com.br/o-colegio/nossa-historia/>. Acesso em: 12 mai. 2020.

4 Monumento em homenagem a vitória baiana sobre o exército português e a sua expulsão da Bahia, que ocorreu em 2 de julho de 1823, resultando assim na independência da Bahia e acabando com a tentativa de retomada do Brasil por Portugal. Segundo Xavier (2015), o monumento possui 25,86 metros de altura, sendo na época da sua construção, o monumento mais alto da América do Sul.

5 Segundo Ribeiro (2016) a Av. Cerqueira Lima passou a ser conhecida como “Beco dos Artistas” por ser um local atrativo para o público que frequentava os teatros da proximidade, como o Castro Alves, o Gamboa, o Vila Velha e as escolas de Teatro e de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. A autora ainda conta que, no Beco dos Artistas, apresentavam-se nomes como Caetano Veloso, Margareth Menezes, Gilberto Gil, Lulu Santos, Zizi Possi e que lá também é local de espetáculos de dança, recitais de poesia, saraus e performances e que hoje, para além desse caráter artístico, o local é conhecido por ter um público majoritariamente LGBTQI+.

6 Clementino Rodrigues, ou Riachão, foi um compositor baiano e um dos grandes nomes do samba brasileiro. Em 2001 ele gravou um CD onde dividiu faixas com Caetano Veloso, Dona Ivone Lara, dentre outros (DINIZ, 2006). Foi também o compositor de músicas como “cada macaco no seu galho”, gravada por Gilberto Gil e Caetano Veloso.

 
 

REFERÊNCIAS:

 

A MARCA DO PODER DE UMA FAMÍLIA. Salvador, 25 dez. 1988. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/Tribuna-25.12.88,cad.Cidade,%20p.02.%20ok.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2020.

CLARK, Haley Helena. O grupo da baixa de quintas: uma visão do samba urbano em Salvador. 2007. 94 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Música, Escola de Música, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/9162/1/Dissertacao%20Haley%20Helena%20Clark.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2020.

DINIZ, André. 2006. Almanaque do samba. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor.

SOUZA, Evergton Sales; MARQUES, Guida; SILVA, Hugo R. (org.). Salvador da Bahia: retratos de uma cidade atlântica. Salvador, Lisboa: EDUFBA, CHAM, 2016. Coleção Atlântica; 1. Disponível em: <https://core.ac.uk/reader/157636570#page=130>. Acesso em: 28 abr. 2020.

PAGANO, Sebastião. O Conde dos Arcos: e a revolução de 1817. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938. Disponível em: <https://bdor.sibi.ufrj.br/bitstream/doc/214/1/132%20PDF%20-%20OCR%20-%20RED.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2020.

PESSOA, Ângelo Emílio da Silva. As ruínas da tradição: a casa da torre de Garcia D'Ávilafamília e propriedade no nordeste colonial. 2003. 308f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História, Departamento de História, Universidade São Paulo, São Paulo, 2003. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-03102005-103312/publico/TeseUSP.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020.

OLIVA JUNIOR, Edgard Mesquita de. Mudança do Garcia: uma estética particular no carnaval da Bahia. Revista Cultura Visual, Salvador, v. 11, p. 91-98, nov. 2008. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/rcvisual/article/view/3376/2468>. Acesso em: 12 abr. 2020

RIBEIRO, Andressa de Freitas. Espaço e sociabilidades: entre o beco e o gueto. Sexualidad, Salud y Sociedad: Revista Latinoamericana, Rio de Janeiro, n. 24, p. 130-156, dez. 2016. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1984-6487.sess.2016.24.06.a. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sess/n24/1984-6487-sess-24-00130.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2020.

SALVADOR. Consórcio TTC-Oficina. Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de Salvador (SEMOB). PlanMob Salvador: Salvador, 2017. Relatório Técnico RT06: Diagnóstico da Mobilidade em Salvador. Disponível em: <http://www.planmob.salvador.ba.gov.br/images/consulte/planmob/PlanMob-Salvador-RT6---Diagnstico-da-Mobilidade-em-Salvador---01-70-v2.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2020.

SALVADOR. IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Salvador: Solar do Conde dos Arcos. Disponível em: <http://www.ipatrimonio.org/salvador-solar-do-conde-dos-arcos/>. Acesso em: 28 abr. 2020.

SOUZA, Mário Sérgio dos Santos. A voz e a fé: rádio, oralidade e religiosidade popular (análise da voz mediatizada do programa “momento devocional a Santo Antônio” veiculada pela rádio Excelsior da Bahia). 2014. 107 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Humanidades, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/16049/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20final.pdf >. Acesso em: 28 abr. 2020.

XAVIER, Melquisedeque. Monumento ao 2 de Julho: Salvador, BA. 2015. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=432170&view=detalhes>. Acesso em: 28 abr. 2020.

XIMENES, Cristiana Ferreira Lyrio. Joaquim Pereira Marinho: perfil de um contrabandista de escravos na Bahia, 1828 - 1887. 1999. 181f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História, Departamento de História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1999. Disponível em: <https://ppgh.ufba.br/sites/ppgh.ufba.br/files/1_joaquim_pereira_marinho_perfil_de_um_contrabandista_de_escravos_na_bahia_1828-1887.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020.

 

 

SOBRE O AUTOR E A AUTORA:

*Caio Vinícius Deiró Teixeira da Silva é bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, voluntário do observaSSA.

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA.

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