Federação

Texto de Clara Souza Ferreira Rocha* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 20 de dezembro de 2019

Segundo Lins e Santana (2012) o bairro teve como origem a construção da capela de São Lázaro, registrada em 1734, e que está situada próxima à colina de São Lázaro. Após sua construção, o governador D. Rodrigo José de Menezes e Castro concedeu, em 27 de março de 1762, a permissão para instalar um pequeno hospital de isolamento, junto a referida capela, que recolhia doentes vindos da Costa d’África, deixando a área conhecida como Lazareto¹.

Já para Gantois (2012) e N’KWMAN (2008), a origem do bairro está estritamente ligada ao surgimento do Terreiro de Candomblé Ilê Iyá Omi Àse Iyamasé, conhecido como Terreiro do Gantois, na primeira metade do século XIX. A estruturação do terreiro se deu através dos ascendentes de Maria Escolástica, mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois² (GANTOIS, 2012, s.p.).

De acordo com a Fundação Gregório de Mattos (2007), o aparecimento do terreiro, bem como o surgimento do cemitério do Campo Santo, o qual teve seu primeiro projeto em 1836, marcou o início do processo de expansão do bairro, que se deu a partir da ocupação de muitas fazendas e sítios como Areia Preta, Gantois, Canjira, São Gonçalo, Paciência e Garcia. Mais tarde, em 1851, foi fundado no terreno em frente do cemitério do Campo Santo, o cemitério dos Alemães. 

Tendo em conta os autores, ainda que não se tenha como precisar o marco inicial do bairro, já que esses trouxeram distintos fatos e épocas para seu surgimento, consideramos que tanto a Capela de São Lázaro, o Terreiro do Gantois e o Cemitério do Campo Santo se constituem em referências históricas importantes na origem da Federação.

Assim sendo, temos que a ocupação inicial do bairro, além de mais afastada do centro administrativo da antiga cidade de Salvador, deu-se em áreas pouco valorizadas aquela época, por conta de seus morros entremeados de vales e entradas de difícil acesso, o que viabilizou a instalação de edifícios voltados para o isolamento e tratamento de enfermos (FUNDAÇÃO GREGÓRIO MATTOS, 2007). Os cemitérios (Campo Santo e dos Alemães) marcaram o fim dos tempos em que os enterros eram realizados no interior das igreja, idéia que no início teve a resistência da população, ocasionando a revolta das Cemiteradas, em 1836. 

Adicionalmente, Santos et. al. (2010) afirma que a construção de uma estrada denominada Estrada da Federação, possibilitou acelerar o processo de ocupação do bairro. Isso porque essa se situava onde hoje é a rua Caetano Moura e foi construída no final do século XIX.

Já no início do século XX, em 1924, a Rádio Sociedade inaugurou na Federação sua primeira emissora, devido o bairro está localizado em alta altitude, o ponto mais alto atinge 115 metros, acima do nível do mar. Nessa época, pelo fato de a Federação ainda ser formada por fazendas, não se tinha muitas casas e existia apenas uma linha de bonde que ligava a área ao antigo centro da cidade. 

No mesmo século XX, em 1946, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi formalmente criada, tendo como uma das áreas para expansão de seus campi a Federação, fator determinante para o processo de consolidação do bairro. Afinal, estão situadas no bairro a Escola Politécnica, projetada em 1956, e a  Faculdade de Arquitetura, projetada em 1963. No final desse século, começaram a surgir outras universidades no bairro, Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e da FACS (Faculdade Salvador), atualmente reconhecida como Universidade Salvador (UNIFACS), localizadas na Avenida Cardeal da Silva (FUNDAÇÃO GREGÓRIO MATTOS, 2007). 

Ainda no século XX outras emissoras de rádio e televisão foram instaladas no bairro,  respectivamente, Band FM, Rede Bandeirantes, Rede Bahia e RecordTV. 

Atualmente, além de todas as torres de TV da cidade, o bairro reúne ao menos dois terreiros de candomblé (Gantois e Casa Branca) e os dois cemitérios que para além da sua função são também pontos turísticos. Hoje, o bairro da Federação faz ligação entre diversos pontos da cidade como as Avenidas Vasco da Gama, Garibaldi e Centenário e os bairros do Rio Vermelho, Canela e Graça sendo esse um dos motivos de tamanha movimentação do bairro, somado a presença das três universidades que lá se encontra.

¹ São estabelecimentos para controle sanitário, onde as pessoas que chegam a um porto são deixadas em quarentena por ser possíveis portadoras de moléstias contagiosas. No caso, o lazareto de São Lázaro foi edificado numa pequena vila para triagem de escravos, nas referidas condições, e também para abrigar pessoas leprosas. Mais tarde, no início do século XIX, os pequenos casebres que tinham está finalidade foram transformados em um hospital, que funcionou regularmente até o começo do século XX. O imóvel hoje sedia a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fabesb).

² Segundo Mariano (2015), Mãe Menininha é bisneta, sobrinha e filha de Ialorixás. Conduziu durante 64 anos os destinos do Gantois, que é um dos terreiros de candomblé mais respeitados do país. Mãe Menininha faleceu em 13 de agosto de 1986, sendo sucedida por Mãe Cleusa de Nanã, sua filha mais velha. Com o falecimento desta última, hoje o Gantois é presidido pela filha mais jovem de Mãe Menininha, Mãe Carmem de Oxalá. Por ser somente sucedido por hereditariedade, e não por outros membros do terreiro, o Gantois desfruta dessa particularidade que o diferencia dos demais.

REFERÊNCIAS:

SALVADOR. Fundação Gregório de Mattos. Prefeitura Municipal de Salvador (Org.). FEDERAÇÃO: NÚCLEO CENTRAL. 2007. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/vivendo-polo.php?cod_area=9.... Acesso em: 15 nov. 2019.

GANTOIS, Eduardo. Bairro da Federação: Alto do Gantois. 2012. Disponível em: <http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com.br/2012/05/bairro-da-fed.... Acesso em: 15 nov. 2019.

Federação é caracterizada pela diversidade. Correio da Bahia. Salvador, 20 ago. 2004. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/CORREIO%20DA%20BAH.... Acesso em: 30 nov. 2019.

LOBO, Sandro. Federação, área que mais se comunica. Correio da Bahia. Salvador, 23 nov. 1996. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/CORREIO%20DA%20BAH.... Acesso em: 30 nov. 2019.

Federação, um domínio cultural de Salvador. Tribuna da Bahia. Salvador, 26 ago. 1987. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/TRIBUNA%20DA%20BAH.... Acesso em: 30 nov. 2019.

N’KWMAN, Kwame. O Ilê Iyá Omi Axé Yamassê: Terreiro do Gantois. 2008. 29 f. Salvador, 2008. Disponível em: <https://www.docsity.com/pt/terreiro-do-gantois/4773667/>. Acesso em: 15 nov. 2019.

SOBRE AS AUTORAS:

*Clara Souza Ferreira Rocha é graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, estagiária do observaSSA com financiamento da Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento - PROPLAN.