Engenho Velho da Federação

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro do Engenho Velho da Federação contava com uma população total de 24.555 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (48,79%) e preta (38,43%), do sexo feminino (53,19%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (52,96%). No que diz respeito aos domicílios, 5,85% dos responsáveis não eram alfabetizados, e apesar de 40,2% estar na faixa de 0 a 1 salário mínimo, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$1.203,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 97,48% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,56% com abastecimento de água e 99,51% com esgotamento sanitário.

Histórico

Texto de Isabella Illana Ferreira Lopes* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 03 de março de 2022

 

De acordo com os relatos da história oral, tratados em Ramos (2013), antes de ser denominado como Engenho Velho da Federação, o bairro era conhecido como Bogum ou Alto do Bogum, em relação direta à existência do Terreiro do Bogum. Adiciona-se que o termo “bogum'' refere-se a um cofre ou baú usado com objetivo de guardar ouro, designado para financiar as revoltas malês das primeiras décadas do século XIX. Sabe-se, também, que um negro escravizado chamado Joaquim, teria contribuído para esses enfretamentos em busca da liberdade dos africanos e afrodescedentes, já que teria sido o principal responsável por guardar ouro em um baú desse modelo, no terreiro que leva o mesmo nome.

Tal elucidação demonstra uma possível ligação entre o Terreiro do Bogum e os Malês, no entanto, não há uma relação direta com o local de organização do grupo, que resultaria na revolta de 18351. Mas, com isso, entende-se que o bairro do Engenho Velho da Federação pode ser considerado como um dos espaços que liderou as lutas pela conquista da liberdade negra. Além disso, em decorrência de o Terreiro do Bogum ser o mais antigo do bairro e o responsável pela sua formação, presume-se que sua origem e consequentemente a do bairro, tenham ocorrido por volta de 1830.

É oportuno citar que não se sabe a data e nem a motivação que incitaram a mudança da nomenclatura do bairro. Ainda que não se tenha mais detalhes quanto a essa transição, o mesmo passou a ser conhecido como Engenho Velho da Federação, nome pelo qual se reconhece o bairro atualmente. Uma das eventuais razões para alteração do nome do bairro de Terreiro do Bogum para Engenho Velho da Federação seria devido à existência de duas fazendas, uma chamada Madre de Deus e a outra Roça do Engenho Velho, ambas caracterizadas pelas lavouras de dendê e cana-de-açúcar. Sendo esta última a responsável pela possível mudança do nome do bairro, pois estaria presente em uma das fazendas, um enorme engenho de cana-de-açúcar. 

Acrescenta-se, ainda, a respeito das antigas plantações de dendezeiros, que se constituíam práticas culturais herdadas dos povos africanos a partir do consumo de dendê, que além do significado sagrado em seus cultos religiosos, também fazia funcionar a economia do bairro, com sua venda. Adicionalmente, Ramos (2013) relata que na memória dos moradores mais velhos, a descrição da paisagem do bairro nesses primórdios trazia cenas de mulheres descendentes de africanos que desciam e subiam as ladeiras vestidas com trajes africanos, saias longas e excesso de tecido. Além disso, a quantidade significativa desses povos escravizados nas fazendas, que existiam na área, propiciavam a realização dos cultos individuais nas matas e a instalação dos terreiros que constituíam as família-de-santo2

Estes dados possibilitaram consolidar dois vieses acerca da origem e formação do bairro. O primeiro, associado à resistência histórica da cultura negra, em decorrência da concentração de terreiros e da própria existência do Terreiro do Bogum que, como já mencionado, chegou a denominar o bairro. Nesse primeiro contexto, o que se percebe é que as famílias-de-santo foram incitando a chegada de outras pessoas, fossem relacionadas diretamente aos terreiros, ou, simplesmente, pelas relações de amizade e parentesco. Infere-se, assim, que o terreiro povoa. Nesse caso, os terreiros do Engenho Velho da Federação constituem uma ancestralidade, visto que, os mesmos são como nucleadores urbanos que deram origem ao bairro. Além das questões culturais, refletidas em características e heranças originadas de povos africanos, expressas pelos terreiros, considerados uma “forma urbana negra”3.

O segundo viés estaria relacionado ao arrendamento de algumas porções de terras pertencentes a fazendas já desativadas, mas que por décadas abrigou africanos escravizados que ali trabalhavam, e mais tarde também permaneceram e formaram agrupamentos populacionais. A dimensão territorial dessas fazendas era tão significativa que a fazenda Roça do Engenho Velho consistia, também, em extensões do bairro de Brotas. Porém, o processo de urbanização da cidade de Salvador ocasionou o desmembramento das terras e remarcações oficiais de subdistritos4. Dessa forma, atualmente, uma parcela da fazenda corresponde ao bairro Engenho Velho de Brotas e a outra é parte do bairro do Engenho Velho da Federação. 

Embora seja evidente a falta de infraestrutura urbana no bairro, como por exemplo iluminação pública precária, ausência de coleta regular de lixo, falta de acesso à esgotamento sanitário, falhas de abastecimento de água potável, entre outros. O Engenho Velho da Federação possui símbolos que marcaram o início da consolidação do bairro e são de extrema importância histórica e cultural, como alguns trabalhos executados pelas mulheres que envolviam atividades de parteiras, rezadeiras/benzedeiras e lavadeiras de ganho. Contudo, muitos destes trabalhos não são mais executados em decorrência do avanço tecnológico (na saúde e eletrodomésticos) e da substituição de mão-de-obra dessas mulheres, bem como da extinção de alguns desses. 

Outro elemento simbólico são as fontes, que eram muito utilizadas pela população na época em que o bairro teve origem, ora como “água de gasto” ora “água de beber”. As fontes localizavam-se em áreas diversas, até mesmo dentro de propriedades privadas, em que os proprietários cediam para o uso coletivo. Apesar da relevância dessas fontes, utilizadas tanto em rituais pelos terreiros de candomblé, quanto pela carência de abastecimento de água potável no bairro, algumas delas desapareceram ou foram soterradas. Todavia, sua importância permanece ainda hoje em torno do uso litúrgico dos terreiros de candomblé e como alternativa à falta de infraestrutura urbana que afeta seus moradores (RAMOS, 2013). 

As simbologias do bairro são múltiplas e abarcam as ruas, avenidas e travessas com nomes associados à vivência dos moradores, como o Alto do Bogum (ou Largo do Bogum), Largo do Engenho Velho, Baixa da Égua. No caso, o Alto do Bogum (ou Largo do Bogum) é a centralidade mais antiga do bairro, a qual reporta-se à localidade do Terreiro do Bogum; que situa-se próximo à Avenida Vasco da Gama, também chamado de Final de Linha do Engenho Velho e marcado por uma paisagem composta de quitandas, mercadinhos, bares, farmácias, etc. Adjacentes ao Alto do Bogum, estão algumas vias com nomes derivados do terreiro: o Largo do Bogum, a Vila Bogum, a Travessa do Bogum, a 2ª Travessa do Bogum e a própria Ladeira do Bogum (RAMOS, 2013).

A referida autora ainda traz que, de acordo com os moradores, a Ladeira do Bogum correspondia a uma trilha interna do Terreiro do Bogum, uma espécie de caminho que dava acesso à fonte d’água e ao Rio Lucaia. E os moradores relatam que após algumas obras de pavimentação das ruas, houve a “repartição” do terreiro, nas quais o asfaltamento da ladeira, realizado na década de 1950, foi o responsável pela redução da área que correspondia ao terreiro, uma perda de aproximadamente um quinto da área original. É nesta ladeira que ocorre, na madrugada de 1° de janeiro, o cortejo das Águas de Oxalá — quando os adeptos e simpatizantes realizam o deslocamento na via que liga o terreiro à fonte.

Outra simbologia ligada ao nome das ruas é a que se relaciona ao Largo do Engenho Velho, também conhecido como Primeiro Largo, em referência a Avenida Cardeal da Silva. E a Baixa da Égua que possuiria esta denominação em decorrência de uma área de várzea naquele local, onde existia um rio que abastecia os produtores das hortas e seus animais, como mulas, cavalos e éguas. Tal nomenclatura se derivaria da concentração de animais nessa baixada (RAMOS, 2013).

Por fim, Ramos (2013) ainda traz alguns detalhes que marcaram e compuseram as simbologias que envolvem os nomes de outras localidades como a Fonte do Forno, Largo da Torre, Beco da Rabada, Pedra da Marca, Avenida Parente, Beco Júlio das Neves (atual Avenida Fonseca), Ladeira do Scorpio, Madruga, Lajinha, Rua São Romão e etc. 

É importante ressaltar que, infelizmente os terreiros de candomblé durante anos, enfrentaram repressões violentas, tanto da sociedade — que produzia discursos de a religião ser para bárbaros, selvagens, atrasados, “raças inferiores”— como da polícia — refletindo o preconceito ou falta de conhecimento sobre suas histórias e importância. Como destaca Velame (2020), a Igreja concebia os candomblés como bruxaria, fetichismo, feitiçaria e rituais satânicos. Enquanto a ciência denunciava seus adeptos e membros como “[...] pessoas degeneradas, dementes, loucas, doentes mentais, com os ditos casos de ‘patologias mentais’ (as possessões) ou ‘problemas psíquicos’ oriundos dos saberes-poderes instituídos e edificados pela medicina clínica e, principalmente, da psiquiatria" (VELAME, 2020, p. 110). 

Esses discursos e comercialização de conteúdo motivaram, como maneira de legitimação, as ações de perseguição e repressão da polícia, que invadiam e destruíam os terreiros; locais “reprimidos, controlados, disciplinados, e, conseqüentemente, subjugados, dominados, “domesticados” e extintos (VELAME, 2020, p. 110). Essas ações propiciaram a invisibilidade e até mesmo o desaparecimento da população descendente de africanos nas cidades. Após inúmeras transformações simbólicas e materiais no bairro do Engenho Velho da Federação, de acordo com relatos de moradores antigos extraídos de Ramos (2013), os terreiros eram completamente integrados ao bairro, 

[...] não havia cercas, muros ou elementos limitadores de acesso às áreas dos terreiros: o limite entre o público/privado e o  sagrado/profano era  simbólico. As crianças entravam no ‘quintal’ do terreiro e pediam aos integrantes das comunidades frutas das árvores (RAMOS, 2013, p. 227).  

Essa integração entre o bairro e, por exemplo, Terreiro do Bogum, o Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká5  e o Terreiro Ilê Axé Obá Tadé Patití Obá6, ocasionaram uma penetrabilidade entre os terreiros vizinhos (RAMOS, 2013). 

Apesar disso, os terreiros resistiram aos inúmeros ataques, e transbordam sua potência mítico-religiosa, pois relacionam-se como expressividade de vida, poder de modificação e consolidação, visto que consolidou o bairro na vertente material e simbólica. Ao todo, o bairro possui 13 terreiros, além dos já citados, de acordo com Mapeamento de Terreiro de Salvador7 ainda há: o Centro de Giro Ogum de Cariri (1971), Ilê Axé Alarabedê (1958), Ilê Axé Obá Tadé Patití Obá (1907), Obá Tony (1936), Odê Mirim (1906), Tanurí Junçara (1955), Terreiro do Cobre (1906), Unzó Oramim Kei de Unzambi (2002), Ylê Axé Mana Dandalunda Oya (1975), Ylê Axé Ojuire (1998), Ylê Axé Omim Onado (2000), Ylê Ojo Bomim (1967) e Zogodo Bogum Male Rundó (1835).

Atualmente, o bairro situa-se próximo ao Centro Tradicional8 e à nova centralidade do “Iguatemi”9, entre um agrupamento de avenidas importantes do sistema viário de Salvador — a Cardeal da Silva, Ogunjá, Anita Garibaldi e Vasco da Gama — e da Rua Lucaia10, o que o coloca em uma localização privilegiada em relação a deslocamentos e mobilidade urbana. Além dessas avenidas também lhe conferirem importância econômica, em especial a Vasco da Gama, que se destaca por sua variedade de serviços automotivos, hipermercados, entre outros.

Acrescenta-se que, o bairro localiza-se na Bacia Hidrográfica do Rio Lucaia11, que origina-se no Dique do Tororó e deságua no Rio Vermelho, contornado pela Avenida Vasco da Gama, desagregando-o do Acupe de Brotas. O bairro é também contornado pelo Alto do Sobradinho, pela Rua Sérgio de Carvalho (Vale da Muriçoca) e limitado na parte superior pela Avenida Cardeal da Silva, que o divide com o bairro da Federação (RAMOS, 2013).

Ao longo do tempo mudanças na configuração espacial e imaterial do bairro ocorreram. Particularmente, quanto às transformações espaciais que repercutiram no aspecto imaterial tem-se, respectivamente, o adensamento populacional e a violência urbana. Como aponta Ramos (2013), a chegada de novos moradores, na década 1980, teria resultado numa relação marcada pela “indiferença” e “individualismo” entre os moradores recém-chegados12 e os mais antigos. 

Mas, sabe-se que tratar da questão da violência não é simples, especialmente pela sua relação com a repercussão midiática, que geralmente influencia na formação da opinião pública de que os bairros periféricos são lugares compostos de marginalidade, reduto de violência e tráficos de drogas. Tal situação não é uma realidade exclusiva do bairro do Engenho Velho da Federação, e sim parte de uma discussão estrutural que constitui as diversas periferias urbanas de Salvador e do país. Esse é apenas um dos aspectos que a questão da violência urbana abarca, afinal os moradores dos bairros periféricos são frequentemente caracterizados pela vulnerabilidade social e econômica, falta ou precariedade de acesso a infraestruturas e serviços de saúde, educação e segurança pública, por exemplo (RAMOS, 2013).

Entretanto, como ainda se depreendeu da leitura de Ramos (2013), não seria a violência urbana que marcaria e caracterizaria a realidade do bairro do Engenho Velho da Federação, e sim as “[...]  vivências e experiências cotidianas marcadas pela cordialidade, solidariedade e companheirismo entre os moradores, tendo as referências dos terreiros do candomblé pautando a forma negra do bairro” (p. 223 - grifos nossos).

Em outros termos, a autora afirma que as práticas comunitárias entre os moradores, passadas ao longo de gerações, como forma de estratégias e articulações de sociabilidade, seriam os principais quesitos responsáveis pelo apaziguamento da violência no bairro. Entre essas práticas, Ramos (2013) aponta à organização dos moradores em associações, com o objetivo principal de estabelecer redes de fortalecimento que busquem melhorar as condições de infraestrutura física e social do bairro, como por exemplo a Associação de Moradores do Engenho Velho da Federação, a Associação Cultural em Defesa dos Moradores da Ladeira João de Deus, a Associação de Moradores do Vale da Muriçoca e a Associação de Mulheres do Engenho Velho da Federação. 

Além das associações culturais, como o Centro Cultural Bombocado que disponibiliza cursos variados, dos grupos musicais (Banda Kissukilas, o Quatro do Samba, o Grupo Tambores do Engenho, Seu Germano), os blocos de carnaval (o Bloco Carnavalesco Afro Bogum e a Associação Carnavalesca Bloco Proibido Proibir), e os de afoxé (Korin Efan). 

É oportuno mencionar também as pressões realizadas pelos moradores para conseguirem ter acesso a equipamentos de educação no bairro, principalmente, a luta da professora Valdina Pinto e da Makota do Terreiro Tanurí Junçara que conseguiram a construção de uma unidade escolar, o Colégio Municipal Engenho Velho da Federação, instalada em 1987. Atualmente, de acordo com o link13, disponível neste site, o bairro dispõe de três escolas públicas: uma estadual, o Colégio Estadual Henriqueta Martins Catarino, e duas municipais, a Escola Municipal José de Anchieta e a Escola Municipal Engenho Velho da Federação. Além da Escola Municipal São Gonçalo, no bairro vizinho — Federação, e dos equipamentos educacionais de nível superior — a Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e a Universidade Salvador (UNIFACS). 

No cenário atual, constata-se a marcante existência da cultura e herança negra no bairro do Engenho Velho da Federação, além do que já foi aqui pontuado, de acordo com Santos et. al. (2010, p. 64), a partir do ano de 2005 o bairro foi estabelecido por meio do governo federal como um quilombo urbano, “[...] uma localidade que tem história de resistência da herança afro-brasileira e um sentido forte de territorialidade e de comunidade”. 

Em virtude de o bairro ter sido reconhecido como um quilombo urbano e possuir inúmeros terreiros responsáveis pela sua consolidação, Ramos (2013) o identifica como um bairro negro, expresso pelo sentido étnico e ratificado por uma população majoritariamente negra, 87,22% – a maior parte se autodeclarou parda (48,79%) e preta (38,43%), de acordo com dados disponíveis neste site. 

Esse reconhecimento nacional como bairro negro ocorreu, em 2009, com a intermediação da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (ACBANTU), do Governo Estadual, com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SEDUR-BA) e da Superintendência de Construções Administrativas (SUCAB); e do Projeto de Revitalização de Territórios Culturais de Matrizes Africanas (Convênio nº 08/2009), que possibilitou à reforma de inúmeros terreiros em Salvador. No Engenho Velho da Federação foram beneficiados os terreiros da Casa Branca, o Patití Obá, o Cobre, o Ojo Bomim e o Odê Mirim. Uma iniciativa do Estado que pelo reconhecimento, valorização e reforma desses espaços se constituiu em uma reparação de uma dívida histórica, já que os terreiros podem ser compreendidos como quilombos, espaços de refúgio e luta pela preservação cultural e racial.

Por fim, e ainda fazendo menção a Ramos (2013, p. 14), o bairro do Engenho Velho da Federação é representado por africanidades e afrodescendências, onde “[...] o  prefixo afro não é somente uma referência ao fenótipo, mas aos elementos que unificam/representam histórias culturais africanas”. 

 

 

1Não foram encontradas informações que relacionem o bairro como um local de reuniões dos negros que articularam o levante de 1835 ou, mesmo, uma relação direta com a Revolta dos Malês, entendida como a mais significativa para resistência e luta contra a escravidão na Bahia. Composta com mais de 200 integrantes, durante o levante atacaram as instalações do governo, como forma de manifestar a repulsa pela situação em que se encontravam os negros naquele período.

2Ramos (2013) relata a respeito da mãe-de-santo do terreiro do Bogum, Mãe Runhó, que concedia algumas parcelas de terra à indivíduos que lhe pediam apoio para construção de residências.

3Para entender de forma detalhada sobre o conceito de forma urbana negra, é necessario compreender os conceitos de Convivibilidade, a Afroconsciência Espacial, os Assentamentos Familiares, a Caminhalidade e a Multifuncionalidade, presentes na tese Maria Ramos — Bairros Negros: uma lacuna nos estudos urbanísticos. Um estudo empírico-conceitual no bairro do Engenho Velho da Federação.

4De acordo com a lei n°1038, de 15 de junho de 1960, capítulo IV - do distrito de Salvador e sua sua divisão em subdistritos, o art.° 4 - O Distrito do Salvador compreenderá os seguintes subdistritos: Amaralina; Brotas; COnceição da Praia; Itapuâ; Maré; Mares; Nazaré; Pairpe; Passo; Penha; Periperi; Pilar; Pirajá; Plataforma; Santana; Santo Antônio; São Caetano; São Pedro; Sé; Vitória.

5Conhecido como Casa Branca. 

6Conhecido também como Patití Obá.

7Estudo realizado pelo Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

8O que se entende como centro da cidade varia conforme o momento histórico de ocupação e a forma de expansão da cidade. Nesse sentido, o Centro Tradicional mencionado no texto é aquele que engloba o Centro Histórico de Salvador (Pelourinho) e os bairros que surgiram no seu entorno e ficaram conhecidos como Centro Antigo de Salvador: Centro (2 de Julho e Centro), Barris, Tororó, Nazaré, Saúde, Barbalho, Macaúbas, Comércio, Santo Antônio Além do Carmo e o próprio Centro Histórico (CARVALHO; PEREIRA, 2006).

9A nova centralidade gerada pelo Shopping Iguatemi e pelo conjunto de serviços que sua área de entorno passou a oferecer, não apenas direcionou a expansão da cidade no sentido orla norte, como afetou a dinâmica do Centro Tradicional na área Antiga da Cidade, contribuindo para seu gradativo esvaziamento (CARVALHO; PEREIRA, 2006).

10Cujo nome tem relação à bacia hidrográfica, onde está situado o Rio Lucaia.

11Segundo Ramos (2013) o Rio Lucaia já foi um local de oferendas, no entanto, não é mais possível tais atividades, em razão de a Avenida Vasco da Gama ter passado por obras de macrodrenagem e cobertura do rio, atualmente canalizado. Como consequência da cobertura do rio foram criadas novas pistas do transporte coletivo e uma ciclovia, prolongando-se até o cruzamento com a Avenida Garibaldi. 

12Cabe aqui ressaltar que o bairro possui atualmente uma vertente significativa na utilização de residências de aluguel, principalmente para estudantes das universidades próximas ao bairro como é o caso da UCSAL, UNIFACS e da UFBA, no qual esses estudantes buscam alternativas de proximidade em relação ao local de estudo. Além disso, também existem aquelas pessoas que procuram outras alternativas de vida na capital e analisam locais onde o preço da terra seja mais acessível e possibilite essa fixação temporário e/ou permanente.

13http://educacao3.salvador.ba.gov.br/

 
 
 
 

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Lei nº 1038, de 15 de junho de 1960. Fixa a delimitação urbana e suburbana dos distritos e subdistritos do Município do Salvador. Câmara Municipal. Disponível em: <https://leismunicipais.com.br/a1/ba/s/salvador/lei-ordinaria/1960/104/10.... Acesso em: 08 dez. de 2021. 

CARVALHO, Inaiá Maria M.; PEREIRA, Gilberto Corso (orgs.). Como anda Salvador e sua Região Metropolitana. Salvador: EDUFBA, 2006.

CENTRO DE ESTUDOS AFRO ORIENTAIS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA. Mapeamento dos Terreiros de Candomblé de Salvador. Disponível em: http://www.terreiros.ceao.ufba.br/mapa/consulta. Acesso em: 21 out. 2021.

RAMOS, Maria Estela Rocha. Bairros Negros: uma lacuna nos estudos urbanísticos. Um estudo empírico-conceitual no bairro do Engenho Velho da Federação, Salvador (Bahia). 2013. 283 f. Tese (Doutorado), Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013. 

SANTOS, Elisabete et. al. O caminho das águas em Salvador: bacias hidrográficas, bairros e fontes. Salvador: CIAGS/UFBA; SEMA, 2010.

VELAME, Fabio Macedo. O culto Egúngún no Brasil: diáspora, ancestralidade e resistência negra nas cidades brasileiras. Dossiê Temático - Cidade, Urbanização e Relações Étnicas Raciais no Brasil, África e Diáspora. Revista ABPN, v. 12, p. 99-130, 2020.

 
 

SOBRE AS AUTORAS:

*Isabella Illana Ferreira Lopes é mestranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e pesquisadora colaboradora no observaSSA.

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA.

 

 

 

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