De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro de Caminho das Árvores contava com uma população total de 12.323 habitantes, a maior parte se autodeclarou branca (60,76%), do sexo feminino (55,32%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (51,76%). No que diz respeito aos domicílios, 3,56% dos responsáveis não eram alfabetizados, 28,2% estava na faixa de 10 a 20 salários mínimos e a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$ 9.176,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 99,50% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,74% com abastecimento de água e 99,40% com esgotamento sanitário.
Histórico
Texto de Caio Vinícius Deiró Teixeira da Silva* e Mayara Mychella Sena Araújo**
Publicado em 27 de agosto de 2020
O Caminho das Árvores surgiu na década de 1970 a partir de um empreendimento da Odebrecht1, que previa a implantação de casas unidomiciliares2 voltadas a classe média-alta de Salvador, sendo um dos metros quadrados mais caros da cidade e apostando em uma área arborizada e com ruas tranquilas para atrair os moradores de bairros como Vitória e Barra. Tal empreendimento foi pensado para estar localizado próximo aos centros comerciais e de lazer, que estavam começando a se deslocar em direção ao vetor norte atlântico, mas em uma área menos movimentada da cidade, resguardado da grande circulação de carros e de pessoas (BRAGA, 2000; CRUZ, 1996).
O bairro é conhecido como Caminho das Árvores talvez por conta do clima bucólico3 o qual o empreendimento inicial queria passar. Nesse sentido ele era formado por diversas alamedas que foram batizadas com nomes de plantas e árvores, como exemplo da alameda principal, conhecida como Alameda das Espatódeas (LAHIRI, 2018). Com a expansão do bairro, que já não estava associada ao empreendimento inicial, novas ruas e alamedas foram surgindo, porém com nomes que não remetiam mais à flora, como inicialmente havia sido.
Um vetor importante para a consolidação do bairro foi a Avenida Tancredo Neves, que surgiu na década de 1960 antes do próprio Caminho das Árvores. O surgimento da avenida não estava ligado ao empreendimento, apesar de próximo e mesmo hoje sendo parte do bairro. Foram para essa avenida, ao longo dos anos, empreendimentos que ajudaram na movimentação da região, como o Shopping Iguatemi4 (1975), a Casa do Comércio (1988), o Hospital Sarah Kubistchek (1994), dentre outros. A Urban Science (2000) ainda relata que, durante a década de 1990, 84,7% das empresas foram para a Avenida Tancredo Neves, o que acabou por torná-la um novo centro de negócios para a cidade (MAIA FILHO, 2000).
Logo quando surgiu, por ser um local pensado para ser residencial, o Caminho das Árvores possuía regras de edificação, podendo ser construídas apenas casas residenciais de até dois andares. No entanto, com a expansão da cidade em direção a Avenida Paralela, o local passou por uma transição e começou a apresentar características de bairro, atraindo empresas, escritórios, bancos, salões de beleza, dentre outros (BRAGA, 2000; DANNEMANN, 1987).
Durante essa transição houve um conflito de interesses a respeito das atividades comerciais e das construções que estavam indo para o bairro. Esse conflito ocorreu entre a Associação de Moradores do Loteamento Caminho das Árvores (AMLCA)5, que defendia a permanência do local como sendo residencial, horizontal e tranquilo, e dos empresários que, com o apoio da Prefeitura Municipal de Salvador, estavam querendo levar empreendimentos comerciais, verticais e afins para o bairro em ascensão. Tal conflito resultou na Lei municipal nº 5.553, de 22 de Junho de 19996, que ordenou o uso do solo fazendo com que as atividades comerciais se organizassem na Alameda das Espatódeas (BRAGA, 2000).
Mesmo com o ordenamento das atividades na referida Alameda, na primeira década dos anos 2000 ainda houve debates a respeito da flexibilização do comércio e da verticalização no Caminho das Árvores. Em 2008, o então prefeito João Henrique sancionou um projeto de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) aprovado pela Câmara de Vereadores, o qual ampliava as atividades comerciais para mais quatro ruas do bairro, sendo elas a rua do Timbó e as alamedas Cajazeiras, Seringueiras e Umbuzeiros (VASCONCELOS, 2012).
Nos dias atuais o bairro um conta com diversos empreendimentos, dentre os quais podem ser destacados o Jornal A Tarde, a Universidade Salvador (UNIFACS), a Sede Estadual dos Correios e Telégrafos, o Salvador Trade Center (2001), o Salvador Shopping (2007), o Mundo Plaza (2010) e o Boulevard Side Empresarial (2012). Para além disso o bairro ainda conta com prédios residenciais, farmácias, clínicas, salões de beleza, escolas, restaurantes, hotéis, dentre outros. Nota-se que o Caminho das Árvores cresceu junto com a cidade e que durante esse processo ele perdeu algumas das características iniciais, podendo ser definido hoje como um bairro misto, com presença de comércio e serviços, porém continua sendo majoritariamente residencial.
1 Organização, Grupo, ou apenas Odebrecht, é um conglomerado empresarial brasileiro de capital fechado que atua nas áreas de construção civil, engenharia química e petroquímica, energia, entre outros. Segundo Cruz (1996) foi uma ramificação da Odebrecht, a Odebrecht Empreendimentos Ltda., hoje extinta, que realizou o projeto do Caminho das Árvores.
2 De acordo com a leitura de Dannemann (1987) o Caminho das Árvores exibia uma porção extravagante de casas em concreto armado. Segundo Cruz (1996) as casas do Caminho das Árvores são descritas como “mansões imponentes”.
3 Relativo a natureza; termo utilizado pela escola literária conhecida como arcadismo, que exaltava a natureza e a fuga da cidade para o campo.
4 Atual Shopping da Bahia.
5 Segundo a entrevista feita 2017 pelo Observatório de Bairros Salvador (observaSSA) com o vice-presidente da associação, Wolfgang Roddewig, a AMLCA não se encontrava mais ativa naquele ano.
6 Altera lei Lei nº 3.377 de 23 de julho de 1984, modificada pela Lei nº 3.853/88 e dá outras providências.
REFERÊNCIAS:
BRAGA, Ivana. Caminho das Árvores luta contra o comércio. A Tarde, Salvador, 23 jul.2000. Local, p. 4.
CRUZ, Sandra. Clima bucólico impera no Caminho das Árvores. Correio da Bahia, Salvador, 21 set.1996. p. 6. Disponível em: <www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/CORREIO%20DA%20BAHIA,%2021%2009%201996.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2020.
DANNEMANN, Maria de Fátima. O bairro foi prejtado para ser sofisticado, hoje tem até conjuntos residenciais: Caminho das Árvores perde sua nobreza. Tribuna da Bahia, Salvador, 18 jun.1987. Cidade, p. 2. Disponível em: <http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/doc-polo/caminho%20das%20arvores%20perde.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2020.
LAHRI, Victor. Caráter residencial mudou, mas Caminho das Árvores segue bairro desejado. Correio, Salvdor. 10 mai. 2018. Minha Bahia. Disponível em: <https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/carater-residencial-mudou-mas-caminho-das-arvores-segue-bairro-desejado/#:~:text=Espat%C3%B3deas%2C%20Framboesas%2C%20Eucaliptos%20e%20Umbuzeiros,selva%20de%20pedra%20do%20bairro.>. Acesso em: 30 abr. 2020.
MAIA FILHO, J. P. Construtoras apostam na força do polo empresarial. Gazeta Mercantil, Salvador, p. 13, 12 dez. 2020.
VASCONCELOS, Flavia. A voz dos bairros: o conflito entre a tranquilidade e a agitação do comércio do Caminho das Árvores. Dividido pelo verde da natureza e as construções comerciais, o bairro tem perdido muitos moradores. IBahia, Salvador. 26 abr. 2012. Disponível em: <http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/a-voz-dos-bairros-o-conflito-entre-a-tranquilidade-e-a-agitacao-do-comercio-do-caminho-das-arvores/>. Acesso em: 02 mai. 2020.
SOBRE O AUTOR E A AUTORA:
*Caio Vinícius Deiró Teixeira da Silva é bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, voluntário do observaSSA.
**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA.