Nordeste de Amaralina

De acordo com os dados dos infográficos presentes neste site, em 2010, o bairro Nordeste de Amaralina contava com uma população total de  21.887 habitantes, a maior parte se autodeclarou parda (49,13%) e preta (39,35%), do sexo feminino (54,02%) e se encontrava na faixa etária de 20 a 49 anos (52,25%). No que diz respeito aos domicílios, 6,33% dos responsáveis não eram alfabetizados e apesar de 36,6% estar na faixa de 0 a 1 salário mínimo, a renda média dos responsáveis por domicílio no bairro era de R$1.530,00. Já com relação a infraestrutura ofertada, 98,19% dos domicílios contavam com coleta de lixo, 99,55% com abastecimento de água e 98,38% com esgotamento sanitário.

 

Histórico

Texto de Clara Souza Ferreira Rocha* e Mayara Mychella Sena Araújo**

Publicado em 29 de setembro de 2020

 

Para entender a história do bairro do Nordeste de Amaralina precisamos falar do aglomerado de bairros Nordeste de Amaralina. Dias (2017) afirma que este aglomerado é formado pelos bairros de Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas e o próprio Nordeste de Amaralina. Além disso, anterior ao estudo feito por Dias (2017) o aglomerado de bairros era conhecido por Região do Nordeste de Amaralina (RNA), por essa razão, pode ser confuso definir precisamente o que é o Nordeste de Amaralina. Porém, estamos utilizando como base, a legislação da atual subdivisão territorial de Salvador, aprovada pela Lei Municipal Ordinária nº 9.278, de 20 de setembro de 2017, em que, o Nordeste de Amaralina é uma parte desse aglomerado. Entretanto, por vezes, a literatura vai tratar o aglomerado inteiro, como sendo o Nordeste de Amaralina. 

O autor, além de Brebion e Lallias (2005), menciona que essa área tem sua história ligada ao século XVIII e as antigas freguesiasde Sesmaria de Itaparica. Em 1865, José Félix da Cunha Menezes, herdeiro do Visconde do Rio Vermelho2, faz uma proposta de urbanização da área, rompendo a ligação com as antigas freguesias e dividindo-a em seis fazendas Paciência, Alagoas, Ubaranas, Pituba, Armação do Saraiva e Santa Cruz (DIAS, 2017). 

Em meados do século XIX, de acordo com Dias (2017) e Santos (2008), a fazenda Alagoas foi comprada por José Alves do Amaral, que a nomeou como Amaralina, dando origem ao nome do bairro do Nordeste de Amaralina. 

Brebion e Lallias (2005) destacam que a família Amaral detinha a propriedade da maioria das terras daquela área, que eram destinadas à produção agrícola. Tanto Brebion e Lallias como Dias afirmam que o Nordeste de Amaralina foi resultado de três formas de loteamento: os loteamentos legais3, através da divisão do que restou das fazendas, a partir da liberação do Estado em 1932, foram divididas em lotes menores pelos proprietários. Além dos loteamentos ilegais, que são aqueles que não levam em consideração as exigências da lei municipal, estadual e federal de uso e parcelamento do solo; e, das invasões em terrenos próximos a essas áreas. 

Parte da ocupação do Nordeste de Amaralina se originou a partir da migração da população do bairro vizinho, Rio Vermelho, que inicialmente era formada por famílias de pescadores. Esse deslocamento se deu diante da pressão exercida pelo poder econômico dos novos interessados nas terras do Rio Vermelho, que passou a ser ocupado pelos integrantes da eliete local, com residências de veraneio. Esse movimento provocou o deslocamento das residências dos pescadores para os arredores, as terras situadas na região nordeste do bairro de Amaralina (BREBION; LALLIAS, 2005). 

Ainda sobre a origem da ocupação do bairro, um estudo desenvolvido pela Escola de Arquitetura4 da Universidade Federal da Bahia, em 1974, indica que cerca de 30% da população do aglomerado do Nordeste de Amaralina era oriunda do Recôncavo Baiano (SOUZA, 2008).

A parte leste do aglomerado, que hoje é o bairro Nordeste de Amaralina, foi ocupada de forma mais intensa, quando da inauguração da Avenida Amaralina, em 1949, que ligava Amaralina à Pituba, facilitando seu acesso (SOUZA, 2008). Segundo Dias (2017), até 1944, toda a área onde hoje é o aglomerado tinha apenas 1.320 habitantes, mostrando que apesar de ser uma das áreas mais densas de Salvador e mais próximas do Centro Antigo, seu processo de ocupação é recente. 

Nessa época, de acordo com Souza (2008), faltava no bairro os serviços básicos, como esgoto, coleta de lixo, luz elétrica, transporte, e por isso a população começa a se organizar desde cedo para reivindicar seus direitos. Em 1957, nasce a Sociedade de Defesa dos Moradores do Nordeste de Amaralina e Adjacências, com caráter reivindicatório, e que é fechada no período da ditadura militar, sendo posteriormente transformada na primeira escola comunitária do Nordeste de Amaralina, a Creche Coração da Mamãe.

Na década de 1960, com a vinda da freira italiana Anna Sironi5 para o bairro, inicia-se também uma organização de cunho católico, com a construção de duas igrejas, Igreja de São José de Amaralina (1966) e Paróquia de Santo André (1975), uma associação de moradores6 e uma escola comunitária. Além disso, cada bairro que faz parte do aglomerado do Nordeste de Amaralina era acompanhado por um casal de referência, responsável pelo acolhimento das famílias recém-chegadas, mobilização para comemorações coletivas, bem como registro do número de moradores (SOUZA, 2008). 

Souza (2008) ainda menciona que, nesse período, além dos problemas já citados, o Nordeste de Amaralina começou a enfrentar uma nova ameaça: as imobiliárias, interessadas na compra dos casebres e áreas livres para construção de prédios.  A autora afirma que esse problema também preocupava os pesquisadores de distintas instâncias institucionais, e junto às organizações locais, exigiam um controle maior por parte do poder público municipal. O que resultou no do Decreto-Lei Municipal n° 5.403/78, assinado pelo Prefeito Fernando Wilson, em 17 de junho de 1978, com a criação da Zona Homogênea Nordeste de Amaralina, que abrangia os quatro bairros. Esse decreto visava assegurar a criação de uma reserva ambiental, possibilitando um melhor planejamento urbano daquela área (SOUZA, 2008). 

Embora o bairro tenha escolas do Ensino Fundamental e Médio, Posto de Saúde, Delegacia de Polícia, uma Unidade Pacificadora da Polícia Militar, ser servido por linhas de ônibus, além de um intenso comércio com pequenos negociantes e diversos serviços, não existem no Nordeste de Amaralina agências bancárias, supermercados de grande porte, área de lazer, bibliotecas públicas e outros equipamentos urbanos considerados essenciais ao atual estágio do desenvolvimento humano.

Quanto ao serviço de transporte, existe um ponto central de ônibus no largo do bairro (final de linha), é nesse largo que acontece a feira dominical do Nordeste de Amaralina, que segundo relato dos feirantes, existe a mais de 40 anos. Para além do seu objetivo econômico, Rocha (2016) destaca que os moradores vêm à feira como área de encontros e lazer.

Segundo Souza (2008), o Nordeste de Amaralina conta ainda com uma vasta produção artística e cultural, pouco conhecida e/ou valorizada pela população soteropolitana. Para a autora, as produções têm como principal influência a matriz da cultura afro-brasileira e do recôncavo baiano, já que destaca expressões como o samba, a capoeira, a dança afro, o hip hop, as festas populares - Yemanjá, lavagem de amaralina, celebração de Terno de Reis, festa de São Jorge -, além de uma forte ligação com os Terreiros de Candomblé.

Até 2020, de acordo com os links do Mapa da Saúde e Encontre as escolas do seu bairro, presente neste site e desenvolvido pela prefeitura Municipal de Salvador, o Nordeste de Amaralina contava com uma Unidade Básica de Saúde (UBS) que é a CS Sabino Silva e com três escolas municipais, o Centro Municipal de Educação Infantil Dalia de Menezes, Escola Municipal Maria Amalia Paiva e Escola Municipal Professora Anita Barbuda. O bairro possui ainda uma escola de âmbito estadual, o Centro Estadual de Educação Profissional em Saúde e Tecnologia da Informação Carlos Correa de Menezes Santana.

 


1 De acordo com Ivone Salgado e Renata Baesso Pereira, no Brasil colônia, uma das formas recorrentes de formação de povoados era a partir da doação de terras por um morador, ou conjunto de moradores, ao patrimônio de um santo de devoção da Igreja Católica. Estas terras cedidas passavam a constituir um bem sagrado e sobre elas poderia ser erguida uma capela, proporcionando a formação e expansão de um povoado, e determinando, sobretudo, legitimidade a terra, conforme as ordenações eclesiásticas. A medida que o povoado se desenvolvesse este poderia adquirir o estatuto de freguesia.

2 A área do Rio Vermelho, que na época abrangia toda a região do final de Ondina até a Praia de Armação, passou aos netos do Visconde do Rio Vermelho. Esses iniciaram um processo de urbanização através de uma sociedade por ações intitulada Cidade da Luz, dividindo as terras em seis fazendas: Fazenda Paciência, Fazenda Alagoas, Fazenda Santa Cruz, Fazenda Ubaranas, Fazenda Pituba e Fazenda Armação do Saraiva (TRAÇOS E LAÇOS, 2006, p.11).

3 Loteamentos legais são definidos segundo a Lei Federal n° 6.766, de 19 de dezembro de 1979 em que considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes. E que coloca ainda que é preciso ter vias de circulação, sistema de escoamento de águas pluviais, rede para o abastecimento de água potável e soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.

4 Atualmente Faculdade de Arquitetura da UFBA.

5 Missionária italiana, que chegou ao Brasil em 1975, depois de ter manifestado o desejo de missionaridade ao Cardeal Dom Eugênio Sales. Anna Sironi foi enviada ao bairro de Nordeste de Amaralina, onde desenvolveu seu trabalho missionário por todo o bairro. Além disso, também desenvolveu trabalhos na região do recôncavo baiano (LAGO, 2020).

6 Em 1979, já existiam cinco organizações comunitárias, além desta primeira, atuando na área que compreende o aglomerado: Sociedade União e Defesa dos Moradores do Nordeste; Sociedade Filarmônica 1º de Maio; Sociedade Beneficente e Cultural do Bairro do Nordeste de Amaralina; Sociedade Protetora dos Posseiros das Ubaranas; e Conselho Comunitário do Bairro do Nordeste de Amaralina (Plandurb, 1979 apud TRAÇOS E LAÇOS, p. 29).

 

 

REFERÊNCIAS:

 

BREBION, Marie; LALLIAS, Sophie. Cidade da Baïa - Cidade do Oceano. (projet de fin d'étude) - Ecole Nationale Supérieure d'architecture de ClermontFerrand. Clermont-Ferrand/França, 2005

DIAS, Clímaco. Práticas Socioespaciais e Processos de Resistência na Grande Cidade: Relações de Solidariedade nos Bairros Populares de Salvador. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFBA. Salvador, 2017. 

LAGO, Luis. Conheça um pouco da história da Paróquia Cristo Redentor: paróquia completa 20 anos. Nordesteusou, Salvador, 10 jul. 2020. Disponível em: <https://www.nordesteusou.com.br/noticias//>. Acesso em: 21 jul. 2020.

ROCHA, Regina Célia Santos. Feira dominical do Nordeste de Amaralina, Salvador/Ba: uma análise sobre a territorialidade de um espaço do circuito inferior. 156 f. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal da Bahia.  Salvador, 2016. 

SALGADO, Ivone; PEREIRA, Renata Baesso. A formação de núcleos urbanos no Brasil Colônia: procedimentos para elevar freguesias a vilas na Capitania de São Paulo na segunda metade do século XVIII. Paranoá: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, v. 18, n. 11. 

SALVADOR. Lei nº 9.278, de 20 de setembro de 2017. Dispõe sobre a delimitação e denominação dos bairros do Município de Salvador, Capital do Estado da Bahia, na forma que indica, e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Salvador, 20 de set. 2017.

_____. Decreto nº 5363, de 28 de abril de 1978. Aprova o plano geral das áreas da represa do Rio do Cobre, do parque São Bartolomeu e sítio histórico de Pirajá e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Salvador, 28 de abr. 1978.

SANTOS, Claudia A. dos. A violência no contexto dos espaços vividos, percebidos e concebidos na cidade de Salvador: estudo de caso nos bairros da Pituba e Nordeste de Amaralina. Dissertação (Mestrado). 127 f. Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2009.

SOUZA, Tatiane dos S. Cultura e Desenvolvimento Local: reflexões sobre a experiência do Programa Viva Nordeste. 2008. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação da UFBA. Salvador, 2008.

TRAÇOS E LAÇOS. Memórias da Região Nordeste de Amaralina. Salvador: Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte - SETRAS, Programa Viva Nordeste, Hora da Criança, Projeto Unindo Talentos, 2006.

 

 

SOBRE AS AUTORAS:

*Clara Souza Ferreira Rocha é graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, estagiária do observaSSA com financiamento da Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento - PROPLAN.

**Mayara Mychella Sena Araújo é Doutora e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura da UFBA e coordenadora do observaSSA.

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  • Vista do Nordeste de Amaralina por Thaís Rebouças, 2021